Folha de S. Paulo


Putin diz que tropas da Ucrânia agem como nazistas e critica Ocidente

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, comparou nesta sexta-feira (29) o cerco das tropas da Ucrânia a cidades no leste do país vizinho aos feitos pelo nazismo durante a Segunda Guerra Mundial.

As declarações fizeram parte de um discurso de apoio aos separatistas aliados de Moscou e de crítica às autoridades ucranianas, aliadas dos EUA e da União Europeia.

Para o líder russo, os rebeldes pegaram em armas para defender cidades das regiões de Lugansk e Donetsk, de maioria russa, do assédio das tropas do Exército ucraniano. "Por mais triste que seja, isso me faz lembrar quando os nazistas rodearam cidades como Leningrado e atiraram contra seus habitantes."

Putin afirmou que é necessário "obrigar" Kiev a negociar com os separatistas e deixar o que chamou de "política do ultimato".

Mais cedo, Putin pediu aos rebeldes a libertação de soldados ucranianos. "Peço para que abram um corredor para a saída de soldados ucranianos rendidos, a fim de evitar mortes desnecessárias".

Minutos depois, o pedido foi aceito por um dos líderes rebeldes, Aleksandr Zakharchenko. "Com todo o respeito a Putin, o presidente do país, que nos ajudou com tanto apoio moral, estamos prontos para garantir isso".

Num comunicado, os militares disseram que o pedido do líder russo apenas demonstrava que "essas pessoas (os separatistas) são lideradas e controladas diretamente pelo Kremlin". Desde abril, a Ucrânia acusa a Rússia de enviar apoio militar e financeiro aos rebeldes, incluindo a invasão de tropas de Moscou.

Na quinta (28), a Otan, aliada de Kiev, divulgou imagens de unidades de artilharia russas perto de Mariupol, na região de Donetsk. Segundo o jornal "The New York Times", as tropas russas ajudaram os rebeldes a dominar a área.

A entrada de tropas foi negada pelo chanceler russo, Sergei Lavrov. "Estamos ouvindo várias conjecturas, não pela primeira vez, mas nenhuma prova foi apresentada", disse, em entrevista.

OTAN

Nesta sexta, o secretário-geral da aliança militar, Anders Fogh Rasmussen, chamou a entrada russa de "flagrante violação" da soberania territorial ucraniana. "Apesar das negativas de Moscou, agora está claro que tropas e equipamentos russos atravessaram ilegalmente a fronteira no leste e sudeste da Ucrânia", disse.

Rasmussen também defendeu a entrada da Ucrânia na Otan, defendida pelo premiê ucraniano, Arseni Yatseniuk. Ele deseja reabrir a postulação à aliança feita em 2008, que é criticada pela Rússia.

A discussão entre Kiev e Moscou acontece no momento de maior escalada do conflito. A ONU afirmou que 2.220 pessoas morreram desde julho devido aos combates no leste ucraniano.

Em relatório, a Comissão de Direitos Humanos da organização denuncia abusos cometidos por rebeldes e soldados, como prisões arbitrárias, tortura e uso de artilharia pesada contra civis.

Devido ao conflito, a Rússia foi punida com sanções americanas e europeias. A animosidade despertada pelo conflito ainda teve outras consequências.

Nesta sexta, a Polônia impediu a passagem do avião do ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu. Segundo o governo, a aeronave mudou de identificação, de militar para civil, minutos antes de entrar em seu espaço aéreo.


Endereço da página:

Links no texto: