Folha de S. Paulo


Médico que se recuperou do ebola chama dia da alta de "milagroso"

Após 18 dias de internação para fazer um tratamento experimental contra o ebola, o médico Kent Brantly considerou esta quinta-feira (21) "milagrosa", em entrevista depois que recebeu alta.

"Estou emocionado por estar vivo, por estar bem e de novo com a minha família. Estou agradecido que minha doença tenha aumentado a preocupação sobre a situação na África Ocidental no meio desta epidemia".

Tami Chappell/Reuters
Kevin Brantly (de azul) deixa entrevista coletiva após receber alta do hospital em Atlanta, nos EUA
Kevin Brantly (de azul) deixa entrevista coletiva após receber alta do hospital em Atlanta, nos EUA

Ele e a missionária Nancy Writebol, que contraíram o vírus na Libéria, foram transferidos no início de agosto para o hospital da Universidade Emory. No local, foram isolados e tratados com a droga experimental ZMapp.

Os dois pacientes foram liberados após fazerem dois exames de sangue nas últimas 48 horas que não detectaram rastros do vírus. Em entrevista, o médico agradeceu por ter sido transferido para os Estados Unidos.

Na sala de entrevista, Brantly reencontrou com a mulher, Amber, e a equipe médica que o tratou. Embora não tenha mais vestígios da doença, o hospital disponibilizou uma sala lateral para os jornalistas.

Horas após o médico ter sido liberado, foi a vez de Nancy Writebol. O marido da missionária, David, afirmou que ela ainda enfrenta alguns sintomas persistentes.

"Nós decidimos que poderia ser melhor que ela deixasse o hospital para que possa ter todo o descanso e a recuperação que ela precisa neste momento", disse, em comunicado.

Reuters
A missionária Nancy Writebol se reencontrou com seu marido, David, após ser tratada contra ebola
A missionária Nancy Writebol se reencontrou com seu marido, David, após ser tratada contra ebola

A OMS atualizou nesta quarta (20) o número de mortos pela epidemia de ebola na África para 1.350. A entidade divulgou que o número de casos confirmados chegou a 2.473, no maior surto da doença desde a descoberta do vírus, em 1976.

TRATAMENTO EXPERIMENTAL

Além de Brantly e Writebol, três médicos africanos recebem o tratamento com ZMapp e parecem se recuperar. O padre espanhol Miguel Pajares também recebeu o remédio experimental, mas acabou morrendo.

Os experimentos foram autorizados pela Organização Mundial de Saúde porque ainda não há tratamento ou vacina para a doença. O chefe da equipe do Emory, Bruce Ribner, disse que a decisão foi acertada.

Editoria de arte/Folhapress

"Foi a decisão correta trazer esses pacientes. Nós sempre suspeitamos de que havia uma boa chance de que esses pacientes sobrevivessem".

Cientistas britânicos estimam que até 30 mil pessoas precisam do tratamento experimental contra a febre hemorrágica provocada pelo vírus do ebola, que atualmente se espalha por quatro países da África -Libéria, Serra Leoa, Guiné e Nigéria.

Ao todo, 17 drogas contra o ebola e 12 vacinas estão em desenvolvimento em várias companhias e instituições, segundo a "BioWorld", uma publicação da agência de notícias Reuters.

Alguns foram definhando em estudos com animais e outros pré-clínicos por mais de uma década. Na semana passada, o governo do Canadá afirmou que vai doar de 800 a 1.000 doses de uma vacina do ebola desenvolvida por um laboratório governamento para a OMS, ainda que nunca testada em humanos.

Outra vacina, da GlaxoSmithKline, aguarda aprovação da FDA (agência que regula alimentos e remédios nos EUA) para iniciar um estudo de segurança humana, possivelmente no próximo mês.


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