Folha de S. Paulo


Protestos mudam cotidiano de Ferguson

O ano letivo das escolas públicas de Ferguson deveria ter começado na quinta-feira passada (14), mas elas só abrirão de vez na próxima segunda (25).

Lojas saqueadas e destruídas nesta área mais pobre da cidade estão fechando bem mais cedo que o normal, com temor aos distúrbios violentos noturnos. Alguns microempresários relatam à Folha que, provavelmente, terão que demitir funcionários "passada a crise" e medir os investimentos para colocar seus pequenos negócios funcionando.

A loja de roupas Yo-Lo Boutique, que teve suas duas vitrines destruídas, colocou chapas de compensando no lugar, com os dizeres "Estamos abertos, proprietários negros".

A tensão racial e os protestos diários por doze dias após a morte do adolescente negro Michael Brown, 18, pelo policial branco Darren Wilson, 28, mudaram a paisagem de Ferguson, subúrbio de apenas 21 mil habitantes na região metropolitana de Saint Louis.

Shen Ting/Xinhua
Manifestante é observado por policiais em Ferguson
Manifestante é observado por policiais em Ferguson

Moradores reclamam de stress, medo, falta de sono e de brigas entre amigos.

A dona de casa Sherry Taylor, 52, diz que é uma "vergonha não poder chegar perto da porta de casa". Ela diz que não consegue dormir, nem sair de casa à noite. Ela foi atingida por uma bala de borracha pela polícia no jardim de casa. Taylor mora perto da avenida West Florissant, epicentro dos protestos.

O barbeiro Roderick Griffith, 31, que trabalha em uma barbearia que permaneceu intacta durante os protestos (apesar da vitrine de vidro) diz que o "movimento caiu muito, está todo mundo perdendo dinheiro". Ainda assim, Griffith diz que apóia os protestos. "Era hora de dar um basta".

Um policial, que pediu para não se identificar, disse que o stress é recíproco. "Temos trabalhado em turnos de 12 horas, está todo mundo exausto aqui". Ele estava encostado em uma viatura, enquanto uma tempestade de verão atingia Ferguson na noite desta quarta-feira (20). A chuva esvaziou o palco dos protestos, com menos de 40 manifestantes no lugar. Até os policiais pareciam mais relaxados.

Dois centros comunitários foram instalados na região, com voluntários para tomar conta de crianças _ muitos pais e mães trabalham fora e não tinham com quem deixá-las.


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