Folha de S. Paulo


Investigação sobre morte de jovem negro é criticada nos EUA

O secretário de Justiça dos Estados Unidos, Eric Holder, chegou a Ferguson (Missouri), onde um adolescente negro desarmado foi morto a tiros por um policial branco, pedindo "uma investigação independente profunda".

Manifestantes duvidam do "independente" –cerca de 50 deles protestaram nesta quarta (20), diante do equivalente à Procuradoria-Geral de Justiça de St. Louis, para pedir que o procurador-geral, Robert McCulloch, se declare impedido no caso.

McCulloch, que é branco, tem um irmão, um tio e um primo policiais. Sua mãe trabalhou na polícia e seu pai, também policial, foi assassinado em 1964 por um jovem negro. Os manifestantes dizem que McCulloch não teria imparcialidade para acusar o policial branco Darren Wilson, 28, que deu seis tiros em Michael Brown, 18, depois de uma discussão em uma rua de Ferguson no dia 9.

Curtis Compton/Atlanta Journal-Constitution
Polícia algema homem que protestava contra morte de negro em Ferguson, nos EUA
Polícia algema homem que protestava contra morte de negro em Ferguson, nos EUA

McCulloch começou a apresentar nesta quarta as evidências do crime ao Grande Júri do Condado de St. Louis. Nem juízes nem advogados podem participar das reuniões do Grande Júri.

"A atenção do país, do mundo, está neste caso. Mas ainda tememos que a Justiça não seja feita", disse à Folha o ativista Darryl Young. "Wilson deveria já estar preso, não em licença remunerada".

Secretário de Justiça e também procurador-geral da Justiça americana, Holder, que é negro, encontrou-se no final da tarde desta quarta com os pais de Michael Brown.

Sua ida a Ferguson foi criticada. "Como podemos esperar um julgamento independente quando o governo federal já está politizando o incidente?", perguntou Megyn Kelly, apresentadora da rede de notícias Fox News.

POLICIAL SUSPENSO
Um policial do Condado de St. Louis foi suspenso depois de apontar um rifle, dizer que "mataria alguém" e usar vários palavrões contra os manifestantes. A ameaça foi gravada por celulares. Indagado por jornalistas sobre sua identidade, ele respondeu: "Meu nome é Sr. Vá se f...". O comando não revelou sua identidade.

A polícia local continuou proibindo aglomerações e obrigando os manifestantes a circularem de um lado para o outro, sob temperaturas de até 35ºC. Mesmo a imprensa –estimam-se 300 jornalistas na área da avenida West Florissant, onde Brown foi morto– ficou boa parte do dia confinada em uma área designada para a mídia.

Desde o dia 10, primeiro dos protestos em Ferguson, 11 jornalistas foram detidos pela polícia e levados à delegacia local, ficando entre 45 minutos e 2 horas sob custódia policial. Alguns deles foram algemados.

Pelas redes sociais, o grupo de hackers Anonymous convocou para esta quinta (21) um "Dia Nacional de Ira", com protestos em 37 cidades.


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