Folha de S. Paulo


Presidente de Israel se desculpa com Dilma por declarações de porta-voz

O recém-empossado presidente de Israel, Reuven Rivlin, ligou para a presidente Dilma Rousseff na tarde desta segunda-feira (11) para se desculpar pelas declarações dadas pelo porta-voz da chancelaria, Yigal Palmor, sobre a crítica feita pelo Brasil aos ataques à faixa de Gaza, em julho.

Em 17 e 23 de julho, o Brasil emitiu dois comunicados em que condenava a ação militar israelense na região e os ataques de Gaza e expressava "solidariedade" com vítimas "na Palestina e em Israel". O governo de Israel reagiu e chamou o Brasil de anão diplomático. À Folha a Chancelaria de Israel afirmou na época que o "comportamento" do Brasil "ilustra a razão porque esse gigante econômico e cultural permanece politicamente irrelevante". Além disso, o governo disse que o país escolhe "ser parte do problema, em vez de integrar a solução".

Segundo nota da assessoria de imprensa da Presidência, Rivlin esclareceu que as expressões usadas pelo porta-voz "não correspondem aos sentimentos da população de seu país em relação ao Brasil". Em resposta, Dilma fez "referências aos laços históricos que unem os dois países há várias décadas" e reiterou a posição histórica do país em defender a coexistência entre Israel e Palestina, como dois Estados soberanos, viáveis economicamente e, sobretudo, seguros.

O novo presidente justificou a ofensiva militar de seu país como uma defesa aos ataques que estava sofrendo pelo Hamas, movimento radical islâmico que governa Gaza. Dilma afirmou que o "governo brasileiro condena ataques a Israel mas condena, igualmente, o uso desproporcional da força em Gaza".

Dilma também pediu ao presidente israelense que a crise atual não seja usada como pretexto para manifestações de caráter racista, seja em relação aos israelenses ou aos palestinos. A presidente também manifestou seu desejo para que haja continuidade do cessar-fogo e que as negociações entre os dois países possam contribuir para uma solução definitiva para a paz na região.

No segundo comunicado emitido pelo Itamaraty, o governo brasileiro classificou como "desproporcional" o uso da força por Israel contra Gaza e expressou seu protesto ao embaixador do país em Brasília, Rafael Eldad, que foi chamado ao Itamaraty. O embaixador brasileiro em Tel Aviv, Henrique Pinto, também foi chamado de volta a Brasília.

O posicionamento brasileiro não foi bem recebido por Israel. Em nota, o país se disse "desapontado" com a convocação do embaixador brasileiro e observou que a atitude "não reflete" o nível das relações entre os países, além de "ignorar o direito de Israel de se defender". "Israel espera o apoio de seus amigos na luta contra o Hamas, que é reconhecido como uma organização terrorista por muitos países ao redor do mundo", afirmou.

Em entrevistas, o porta-voz afirmou que a resposta de Israel era "perfeitamente proporcional". "Isso não é futebol. No futebol, quando um jogo termina em empate, você acha proporcional, e quando é 7 a 1 é desproporcional. Mas não é assim na vida real e sob o direito internacional", declarou o porta-voz na época.


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