Folha de S. Paulo


Contrariada, Moscou ameaça restringir acesso a site da BBC em russo

A Rússia está ameaçando restringir acesso ao site da BBC em russo, depois que a cadeia britânica de rádio e TV se recusou a remover uma entrevista com um ativista que Moscou classifica como extremista.

O Kremlin vem reforçando firmemente seu controle sobre a mídia local durante o governo do presidente Vladimir Putin, desde 2000, mas a mídia ocidental em geral não vinha sendo afetado por essa tendência.

A decisão de bloquear o site da BBC seria um raro exemplo de interferência do governo russo no trabalho da mídia ocidental. A disputa surge em meio à crescente tensão entre o Ocidente e a Rússia quanto ao conflito na Ucrânia e a imposição de sanções contra Moscou pelos Estados Unidos e a União Europeia.

A agência de fiscalização das comunicações russa disse que poderia limitar acesso ao site por conta de uma entrevista com Artyom Loskutov.

Loskutov irritou Moscou ao convocar um comício na cidade siberiana de Novosibirsk para pressionar pela "federalização" - maior autonomia política e econômica - para a Sibéria, rica em petróleo, com o slogan "chega de alimentar Moscou".

A BBC informou que o acesso ao seu site já estava sendo restringido na Rússia, mas a entrevista ainda estava disponível para download em Moscou na terça-feira .

Em comunicado, a BBC afirmou que "não temos planos de remover a entrevista de nosso site. Loskutov é um artista e ativista conhecido por organizar eventos que, à primeira vista, são paródias de atividade política, mas que também trata de questões sérias sobre a vida na Rússia".

Ainda que o projeto planejado por Loskutov dificilmente devesse atrair interesse público em larga escala, as autoridades o proibiram sob a alegação de que os lemas propostos eram perigosos e podiam incitar revolta em massa.

A "federalização" é um conceito delicado para Moscou.

Embora a Rússia já seja uma federação, o poder político na prática é pesadamente centralizado, com o presidente mantendo amplos poderes para influenciar as indicações aos governos regionais.

Putin diz que esse controle estreito impediu que a vasta nação, dotada de armas nucleares, se desintegrasse, risco que ele acredita fosse alto quando ele assumiu a presidência, substituindo Bóris Ieltsin.

Mas Putin também falou repetidas vezes em favor da "federalização" da vizinha Ucrânia, onde muita gente na região leste do país, de fala majoritariamente russa, se opõe ao novo governo pró-ocidental em Kiev.

O Ocidente acusa Moscou de apoiar os rebeldes do leste da Ucrânia com verbas e armas, uma acusação que Moscou nega.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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