Folha de S. Paulo


Israelenses sobem colina para assistir a bombardeio

Um morador de Sderot sobe uma colina no entorno da cidade. Com o cão na coleira, para diante da ribanceira, olhando adiante. No horizonte, um estrondo e uma nuvem de poeira. Alguém comenta, ao redor: "Ali, onde estão os prédios, é Gaza."

Israelenses têm ido a esse monte, desde o começo da operação Margem Protetora, em 8 de julho, para assistir à ação de seu Exército. Sderot, com 24 mil habitantes, está localizada a cerca de 1 km da fronteira com Gaza.

"Eu relaxo aqui", diz à Folha o morador, de 57 anos. Ele, que sobe a colina todos os dias, prefere não dizer o nome. "Quando ouço as explosões, no trabalho, e não sei o que aconteceu, fico ansioso", afirma.

Quando a reportagem lhe pergunta o que sente ao saber que, em cada ataque que ele testemunha, pode ser que haja vítimas, não sabe responder. "Não consigo explicar. É a realidade. Os palestinos estão lutando com força. Nós temos de responder com força", declara.

Outros moradores passam pela colina, enquanto a cena se acalma no horizonte, durante cessar-fogo entre Israel e Hamas. Eles revezam os binóculos, sentados nos sofás velhos que alguém trouxe.

A reportagem encontrou ali quem escalasse o morro para refletir sobre a guerra.

Três jovens subiram a colina e, em silêncio, se sentaram em um sofá. Enquanto acendiam os cigarros, os três ex-militares contaram ter dirigido até ali para assistir o conflito sobre o qual leem nos jornais. Esses amigos se conheceram no Exército, durante o serviço militar obrigatório.

"Não adoramos o que está acontecendo", afirma Nohar. Ela prefere que o sobrenome não seja publicado. "Usamos bastante força contra Gaza, mas essa é uma guerra."

Um amigo dela morreu no conflito, na semana passada, enquanto lutava. Outros cinco estão dentro do estreito de terra, durante as operações de destruição de túneis.

"O Hamas está atirando contra nossos civis", afirma Nir. "Nós podíamos ter destruído toda a faixa de Gaza."

"Não queremos que civis morram em nenhum lugar, mas temos de fazer alguma coisa", diz, a respeito das centenas de palestinos não militantes que morreram durante ataques israelenses.

Outro morador se aproxima da beirada da colina, olhando para a fumaça em Gaza. À Folha diz que vem ali algumas vezes durante a semana. "Às vezes é assustador", afirma.

"Uma vez ouvimos a sirene e tivemos 15 segundos para descer o morro para nos abrigar."

Ele diz, também, ter sido orientado pela polícia para evitar multidões na colina. "Se o Hamas souber que nós estamos aqui, vão atirar."

Não que não atirem. Sderot é uma das cidades mais atingidas por foguetes palestinos do Hamas. "As crianças não vão às ruas, com medo dos foguetes", declara o israelense.


Endereço da página: