Folha de S. Paulo


EUA revogam vistos de governistas da Venezuela por abusos em protestos

Os Estados Unidos anunciaram nesta quarta-feira (30) a revogação de vistos a integrantes do governo da Venezuela, a primeira sanção americana ao país desde as manifestações contra o presidente Nicolás Maduro, iniciadas em fevereiro.

Pelo menos 43 pessoas morreram e centenas ficaram feridas nos protestos, que tiveram seu ponto alto entre março e maio. Outros 87 manifestantes continuam presos, incluindo líderes da oposição radical, como o ex-prefeito Leopoldo López.

Segundo a porta-voz do Departamento de Estado americano, Marie Harf, os venezuelanos que foram alvo das sanções estavam envolvidos em violações dos direitos humanos e na repressão aos protestos de grupos opositores.

"As forças do governo responderam [aos atos] com prisões arbitrárias, uso excessivo da força e intimidação judicial. Vimos esforços repetidos para reprimir a expressão legítima de discordância".

A lista de nomes não foi divulgada devido à política americana para a concessão de vistos. Segundo a agência de notícias Efe, dirigentes das forças de segurança e parlamentares estão entre os que tiveram suas permissões de entrada cassadas.

"Mesmo que não identifiquemos publicamente esses indivíduos, nossa mensagem é clara: aqueles que cometeram esses abusos não serão bem-vindos nos Estados Unidos".

Em entrevista coletiva, o ministro das Relações Exteriores venezuelano, Elías Jaua, disse não ter sido notificado pelo governo americano. Ele chamou as sanções americanas de ação desesperada.

"São ações desesperadas que eles fazem contra nós, mas que seja bem-vinda sua fúria. É mais uma represália do governo dos Estados Unidos contra o papel da Venezuela em um mundo novo, de uma América Latina independente, soberana".

Para ele, a decisão é uma resposta à visita do presidente chinês, Xi Jinping, a Caracas, e à cúpula do Mercosul, também na capital venezuelana, vistas como um avanço venezuelano por Jaua. "Os cães latem", disse, parafraseando Dom Quixote.

PRESSÃO

A decisão sobre as sanções à Venezuela é tomada após forte pressão do Congresso americano sobre a administração de Barack Obama, em especial da oposição republicana e de senadores mais próximos da comunidade latina.

"Foi um bom primeiro passo, mas, se a violência continuar, precisaremos analisar sanções mais duras", disse o senador democrata Bill Nelson, do Estado da Flórida.

Já a republicada Ileana Ros-Lehtinen desejava que as punições fossem mais duras. "Só atingindo os bandidos do regime de Maduro em seus bolsos é que teremos uma oportunidade de contribuir para que nasça uma nova era na Venezuela".


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