Folha de S. Paulo


Crises externas pressionam Obama em vários fronts

Enquanto as crises entre Israel e Gaza e na Ucrânia não davam sinal de arrefecimento, o presidente dos EUA, Barack Obama, visitava a Costa Oeste, participando por três dias de eventos com doadores de campanha em Seattle, San Francisco e Los Angeles.

A decisão do democrata de manter o cronograma interno em meio às duas crises não passou incólume pela oposição, que denunciou o aparente descaso do presidente.

Obama vem sendo "empurrado" cada vez mais para a agenda externa, não só pelas crises na Ucrânia e no Oriente Médio, mas pelo impasse sobre o programa nuclear com o Irã, a violência no Iraque e na Síria e os problemas na transição de poder no Afeganistão, que podem atrapalhar seus planos de retirada.

Até uma grave crise interna sem solução –a do aumento das crianças imigrantes–, que vem sendo chamada de o "[furacão] Katrina de Obama", teve que "dividir" a atenção do presidente com o caos externo neste momento.

"É um desafio ao pressuposto básico de Obama sobre política externa: fazer menos é quase sempre o caminho mais sábio", afirma David Adesnik, do American Enterprise Institute, conservador.

Editoria de Arte/Folhapress

O secretário de Estado John Kerry já saiu em defesa de Obama, alegando que a atual turbulência internacional "não é culpa" do presidente.

Para Kori Schake, da Hoover Institution, porém, as escolhas de Obama falharam em trazer a nova ordem internacional que ele defende: "Sua abordagem é recuar esperando que outros países avancem e que façam as escolhas que ele faria. Nenhuma dessas hipóteses é real".

No caso ucraniano, a crítica a Obama é que ele poderia ter dado mais apoio ao governo do país contra os separatistas ajudados pela Rússia e pressionado mais Moscou.

"Até agora, as sanções de EUA e União Europeia têm sido brandas. Isso deu confiança a [presidente russo Vladimir] Putin de que ele não corre risco ao elevar a violência na região", diz Adesnik.

Crítica semelhante ocorre no caso da Síria, onde até a ex-secretária de Estado Hillary Clinton defendia apoio mais expressivo dos EUA aos insurgentes contra o regime do ditador Bashar al-Assad.

"A Casa Branca hesitou em agir no início da crise, quando havia uma oposição moderada com influência significativa", avalia Adesnik.

A oposição síria depois se radicalizaria, dando espaço ao avanço de milicianos sunitas também no vizinho Iraque ""para onde Obama se viu obrigado a enviar mais de 700 militares em dois meses.

CONEXÕES

Um dos grandes desafios para Obama é a conexão, muitas vezes indireta, entre as crises. No caso ucraniano, por exemplo, endurecer o discurso contra Moscou poderia atrapalhar os interesses americanos na negociação sobre o programa nuclear do Irã.

"As crises 'respingam' umas nas outras. Os sul-coreanos se preocupam muito mais com garantias dos EUA [contra a Coreia do Norte] após Obama determinar uma 'linha vermelha' na Síria [o uso de armas químicas] e não fazer nada quando ela foi ultrapassada", diz Schake.

Para ela, o posicionamento de Obama sobre as crises certamente terá impacto nas eleições parlamentares deste ano. Pesquisas mostram que a alta reprovação a Obama (55%) vem se mantendo.

Já Adesnik acredita que só "outro ataque a cidadãos ou ao território dos EUA" tornaria a política externa um tema de peso nas urnas.


Endereço da página: