Folha de S. Paulo


Violações de Israel em Gaza são claras e documentadas, diz ativista palestino

A chefe de direitos humanos da ONU afirmou, na terça-feira (22), haver uma "forte chance" de que Israel tenha cometido crimes de guerra nos ataques a Gaza.

Para o advogado palestino Raji Sourani, fundador do Centro Palestino para os Direitos Humanos, essas violações estão, porém, claras e documentadas.

"Algumas famílias foram totalmente eliminadas, em Gaza", afirma. Ele cita, em seguida, o nome de famílias que tiveram todos os seus membros mortos nas semanas recentes.

A organização de Sourani, independente, registra as violações e pede, na Justiça, por ações contra o governo israelense. Mas, para ele, a Operação Margem Protetora se distingue das demais pela forte agressão contra civis.

"Desta vez é diferente. Os civis têm sido alvos intencionalmente", diz, citando as dezenas de mortos no antigo bairro gazati de Shujaya.

"E não me preocupo apenas com as mortes e com a destruição. Dezenas de milhares de habitantes saíram da região em apenas seis horas, sem nada nas mãos. Nunca vi isso na minha vida", diz.

Sourani se queixa de que, apesar de sua militância nos direitos humanos, EUA e União Europeia bloqueiam qualquer medida contra Israel nessa área. "Assim, eles podem cometer esses crimes de guerra publicamente."

O Exército israelense argumenta que os alvos atingidos são identificados como estruturas terroristas, e as baixas civis seriam o resultado da política do Hamas de usá-los como escudos humanos.

Mas, aponta o advogado Sourani, civis são protegidos pelas convenções internacionais e não poderiam ser atingidos mesmo nessa hipótese.

Questionado pela Folha sobre a razão de ataques sem aparente objetivo militar, como as quatro crianças recentemente mortas na praia, ele compara a ocupação israelense dos territórios palestinos a uma areia movediça. Há ali, afirma, um "afundamento moral".

"Depois de um tempo, você se move e afunda sem perceber. Eles não sentem mais, pois creem ter o monopólio da palavra 'vítima'."

No encerramento da entrevista, Sourani diz que credita o apoio ao Hamas, na faixa de Gaza, à exaustão dos habitantes do estreito de terra empobrecido e agredido. "Não queremos ser boas vítimas. Sinto vergonha em olhar nos olhos da minha mulher, porque não posso defender a minha família."


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