Folha de S. Paulo


Bombardeio israelense mata ao menos 15 em escola de Gaza, diz ONU

Pelo menos 15 pessoas morreram em um ataque realizado pelas forças israelenses nesta quinta-feira (24) a uma escola no norte da faixa de Gaza que é utilizada pela ONU para receber refugiados palestinos. Entre elas estariam diversas crianças e funcionários das Nações Unidas.

Mais de 140 mil palestinos foram deslocados durante os 17 dias de disputa entre Israel e militantes em Gaza. Esses civis estão trancados em refúgios como a escola de Beit Hanun, onde eles acreditam ter algum nível de segurança, enquanto o restante do território é bombardeado. Israel já atingiu, no entanto, hospitais e igrejas. A operação militar israelense já deixou mais de 700 palestinos mortos. Do lado israelense, foram 32 militares e três civis -sendo um tailandês.

Parte dos militares de Israel desconhece alvos dos ataques
Israel rejeita crítica do Brasil e afirma que país é 'irrelevante'

"Estão nos matando, não podemos fugir", dizia aos gritos uma mulher enquanto segurava nos braços um bebê de poucos meses de vida e com as roupas manchadas de sangue do irmão, morto no ataque.

A reportagem da Folha esteve na escola pouco depois do ataque. Havia rastro de sangue nos corredores. A maioria das vítimas foi levada dali ao hospital de Beit Hanun, a alguns quarteirões. Palestinos choravam a morte dos seus familiares.

A cena era de horror, com parentes largados ao chão, desconsolados. Outros discutiam violentamente entre si. Testemunhas tentavam contar, entre o triste choro e o grito no pátio, a narrativa de sua tragédia. Todos insistiam ter sido alertados pela Cruz Vermelha para deixar a escola, sob risco, e em seguida ter presenciado o ataque.

Israel afirma tentar minimizar as mortes de civis enviando, minutos antes dos bombardeios, alertas a ocupantes de "alvos" -por meio de bilhetes jogados no ar e de telefonemas.

A investigação foi interrompida por uma súbita explosão diante do hospital, causada por um projétil a poucos metros dali. O barulho deixou desnorteados os presentes, que correram para abrigar-se. Uma vítima, que acabara de reclamar da ausência de repórteres em Beit Hanun, gritava: "Filmem!".

Diante da volatilidade da situação, a Folha deixou o local, seguindo os demais jornalistas presentes. Beit Hanun, próximo à fronteira norte, é considerado uma região extremamente perigosa. O caminho de volta à Cidade de Gaza foi feito por entre os trechos-fantasma do estreito, onde não se vê mais habitantes. As casas estão ou destruídas ou abandonadas.

REFUGIADOS

Vítimas do ataque à escola reclamavam não ter recebido alimento, nos últimos dias. Eles também questionavam a sugestão dada pela Cruz Vermelha de que se retirassem das salas antes de um ataque realizado no pátio.

"ONU, Cruz Vermelha, Israel... São todos iguais", afirma um palestino que prefere não se identificar. Seu irmão morreu na explosão. "São todos criminosos, porque nos pediram para sair da escola."

A UNRWA, agência da ONU para refugiados palestinos, diz ter tentado coordenar com o governo israelense uma janela humanitária para retirar civis da escola -esse pedido teria sido recusado.

Uma mulher diz, aos prantos, que eram centenas por ali, em fuga do violento bombardeio em todo o restante do estreito de terra. Há contradição a respeito do número de bombas lançadas, oscilando entre três e cinco. "Os corpos estavam separados em partes", diz Hania Hamid. Ela não teve parentes mortos, mas disse que, após 11 dias refugiada na escola, considerava os demais "como parte de sua família".

Israel acusa o Hamas de usar escolas como abrigo e, assim, arriscar a vida de civis, tidos como escudos humanos. "Os terroristas atiram foguetes a partir de escolas, mesquitas, hospitais e locais populosos", afirmou o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, nesta quinta-feira. "Nós estamos tentando e estamos fazendo o que podemos para minimizar as mortes de civis, mas não nós podemos dar aos nossos agressores imunidade ou impunidade."

O ataque -o quarto contra um alvo da ONU- ocorre 24 horas após o Conselho de Direitos Humanos da ONU ter aprovado uma resolução para investigar a suspeita de que Israel comete crimes de guerra. O Brasil também votou a favor, e os EUA foram os únicos a votarem contra.

O secretário de Estado americano, John Kerry, permanece na região do Cairo, no Egito, de onde falou por telefone tanto com israelenses quanto com palestinos, na tentativa de chegar a um cessar-fogo.

Com Efe


Endereço da página:

Links no texto: