Folha de S. Paulo


Rússia responsabiliza Ucrânia; EUA dizem que avião foi abatido por míssil

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta quinta (17) que o governo da Ucrânia tem responsabilidade sobre a queda do avião com passageiros da Malaysia Airlines.

"Essa tragédia não teria ocorrido se houvesse paz na região, se as ações militares não tivessem recomeçado no sudeste da Ucrânia. E, certamente, o Estado responsável pelo território tem responsabilidade sobre esta terrível tragédia", disse Putin.

Editoria de Arte/Folhapress

Segundo comunicado divulgado na madrugada de sexta-feira em Moscou, o presidente russo iniciou uma reunião com conselheiros pedindo um minuto de silêncio por causa da queda.

Antes, o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, afirmou que "não descartava" que o avião houvesse sido derrubado. "Este é o terceiro trágico incidente nos últimos dias, após dois jatos militares ucranianos terem sido derrubados a partir do território russo", disse.

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Mais cedo, o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que a queda "não foi um acidente".

A fala vai ao encontro de relatos de dois oficiais do Exército americano, segundo os quais o avião foi alvejado por um míssil antiaéreo terrestre.

Biden disse ainda que conversou ao telefone com o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, e que os Estados Unidos ofereceram ajuda para apurar o acidente. Nas palavras do vice-presidente, o avião "explodiu pelos ares".

Segundo Biden, uma equipe do Exército dos Estados Unidos "estará rapidamente a caminho para ver se podemos chegar ao que causou o acidente".

Ele afirmou ainda que a "primeira preocupação" é com os cidadãos americanos que estavam no voo.

NÚMERO DE MORTOS

O número de mortos subiu para 298 após a Malaysia Airlines divulgar a lista de passageiros por nacionalidade.

A maioria dos ocupantes era de holandeses (154), seguidos de malasianos (43, incluindo os 15 membros da tripulação), australianos (27) e indonésios (12).

Também havia britânicos, alemães, belgas, filipinos e um canadense entre os passageiros. Outros 41 mortos têm nacionalidade não confirmada, de acordo com a companhia.

A empresa não disse se havia muitas crianças a bordo, conforme a mídia holandesa especulou.

ACIDENTE

Logo após a queda, testemunhas relataram que dezenas de corpos em pedaços estão espalhados por um raio de 15 km, na região da cidade de Grabovo, próximo a Donetsk, segundo agências de notícias. Serviços de emergência dizem que pelo menos cem corpos foram encontrados até agora.

Os destroços do Boeing 777 têm as cores da companhia aérea malaia. É provável que o avião tenha explodido no ar, embora haja corpos inteiros.

Separatistas ucranianos afirmam ter encontrado uma das duas caixas-pretas do avião e pretendem pedir um cessar-fogo de três dias, para que o incidente seja investigado, de acordo com agências russas.

O presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, acredita que um "ato terrorista" foi a causa da queda do avião, disse seu assessor.

"Poroshenko crê que esse avião foi abatido: não é um incidente, não é uma catástrofe, mas um ato terrorista", afirmou Svatoslav Tsegolko.

O confronto entre separatistas pró-Rússia e forças ucranianas na fronteira já provocou a queda de aviões militares nesta semana.

Mais cedo, um assessor do ministro do Interior da Ucrânia também disse que a aeronave foi derrubada por um míssil lançado a partir do solo. A informação, porém, ainda não foi confirmada oficialmente.

"Terroristas, usando um sistema de mísseis Buk fornecido por Putin [presidente russo], derrubaram um avião civil", disse pelo Facebook.

A Malaysia Airlines divulgou nota em que confirma ter pedido contato com o voo MH17 às 11h15 (hora de Brasília) quando ele sobrevoava a Ucrânia, a 50 quilômetros da fronteira com a Rússia. Segundo a companhia, havia 280 passageiros e 15 membros da tripulação a bordo.

ACUSAÇÕES

A queda do avião de passageiros ocorre no esteio de ataques a aeronaves militares na região, tanto por parte de separatistas ucranianos como por parte do Exército da Rússia.

Mais cedo, Poroshenko lembrou dos casos de aviões militares derrubados na área nesta semana.

"Este é o terceiro caso trágico nos últimos dias, após os aviões An-26 e Su-25 das forças armadas ucranianas serem derrubados a partir do território da Rússia", declarou Poroshenko.

"Nós não excluímos a possibilidade de este avião ter sido abatido, e ressaltamos que as forças armadas ucranianas não efetuaram disparos que possam ter atingido alvos no ar", acrescentou, antes de apresentar suas condolências às famílias das vítimas.

O líder separatista Aleksander Borodai, por sua vez, acusou forças ucranianas de terem abatido o avião. De acordo com a Interfax, um membro do governo de Donetsk disse que as armas rebeldes só podem derrubar aviões a 3.000 metros de altura.

A aeronave foi derrubada a cerca de 10 quilômetros do solo –altura que o sistema de mísseis Buk consegue alcançar.

A Ucrânia acusou nesta quinta-feira (17) a Rússia de derrubar um de seus aviões de guerra, um Su-25, na quarta (16). Segundo Andrei Lisenko, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional e Defesa ucraniano, o ataque obrigou o piloto a ejetar.

O ministério de Defesa da Rússia negou e disse que a acusação de Kiev era "absurda".

Os rebeldes pró-russos, enquanto isso, alegaram na quarta-feira a responsabilidade por ataques a dois jatos Sukhoi-25. O Ministério da Defesa ucraniano diz que o segundo jato foi atingido por um míssil antiaéreo portátil, mas acrescentou que o piloto não saiu ferido e conseguiu pousar o avião em segurança.

Na segunda (14), a Ucrânia anunciou que um avião de transporte militar An-26 foi abatido por um míssil disparado do território russo.

Lisenko informou que dois dos oito tripulantes do An-26 foram encontrados mortos, enquanto quatro foram resgatados e outros dois aprisionados pelos rebeldes.

Em março passado, outro avião da Malaysia Airlines desapareceu quando ia de Kuala Lumpur a Pequim com 239 pessoas a bordo. Os destroços do Boeing 777 não foram encontrados.

O vídeo abaixo mostra a coluna de fumaça formada pela queda do avião.

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