Folha de S. Paulo


Análise: Obama reage após Brics aliviarem isolamento global de russo

A alegria de Vladimir Putin mal durou um dia inteiro. As novas sanções americanas vêm no momento em que a diplomacia russa comemorava a sinalização de que o presidente não está tão isolado quanto parece no cenário global, com a reunião dos Brics no Brasil.

Mais: Putin havia sequestrado parte da agenda do encontro ao dar declarações contundentes, na segunda (14), contra justamente a mesma política de sanções dos "EUA e de seus aliados". Afirmou que os Brics deveriam ser uma trincheira contra tais medidas.

Como não ouviu um "não", ou de resto quaisquer referências à crise pela qual vem sendo culpado pelo Ocidente na Ucrânia, a lógica diplomática contabilizou o episódio como um apoio tácito dos colegas –nada diferente do que tradicionalmente pensam China e Brasil, por exemplo.

A Índia, que tem uma aliança estratégica importante com os EUA, parecia mais preocupada em celebrar a presidência do novo banco do bloco.

A África do Sul, estrategicamente, pesa muito menos que quaisquer dos outros atores em questão e sua opinião tem densidade equivalente.

Por outro lado, não é de se esperar nenhuma declaração inflamada de apoio a Putin. Cada um dos países tem sua cota de questões a resolver com os EUA, como no caso do "rapprochement" em curso entre Brasília e Washington, após a crise da espionagem da NSA. E há muita suspeita, de resto, sobre as táticas de Moscou no país vizinho.

De todo modo, o novo ataque do governo Obama contra Putin ainda precisa ser estimado em números, mas seu "timing" não poderia ser mais friamente calculado.

O risco para os EUA é o outro lado da questão. Após a anexação da Crimeia pela Rússia, que acabou absorvida como fato consumado no Ocidente, a preocupação maior é com os separatistas étnicos russos em atrito com forças do governo de Kiev.

Apoiados pela Rússia, que naturalmente nega envolvimento direto, eles mantêm a tensão elevada no país. Mas não houve nenhum incidente recente tão grave quanto a anexação de março para justificar a escalada repentina das sanções americanas.

Logo, Washington pode involuntariamente dar gás ao discurso de Putin a seus colegas de Brics: de que as sanções são meramente instrumentos de pressão dos EUA sobre países que não concordem com suas políticas.


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