Folha de S. Paulo


Remanejamento de Cameron diz à UE que Reino Unido está pronto para sair

O remanejamento promovido pelo primeiro-ministro britânico, David Cameron, no governo transmite à Europa a mensagem de que o Reino Unido está preparado para sair da união se os termos atuais forem mantidos e que não atribui importância suficiente ao cargo de comissário europeu para enviar uma das "figuras de peso" do governo a Bruxelas, disseram analistas europeus.

O novo comissário europeu do Reino Unido, lorde Jonathan Hill de Oareford, é tecnocrata, ex-assessor de John Major e não é eurocético. Ele esteve ao lado do ex-premiê quando foi negociado o tratado de Maastricht, de 1991, e foi assessor especial de Ken Clarke, o mais pró-Europa dos conservadores seniores. Hill conhece as minúcias das leis e dos procedimentos europeus.

"Ter a oportunidade de exercer um papel na reforma da UE é uma responsabilidade enorme, e estou feliz por ela me ter sido oferecida", ele disse. "Creio também que é do interesse do Reino Unido exercer um papel de liderança na UE, moldando a organização na medida em que ela se modifica para fazer frente aos desafios atuais."

"Dentro de cinco anos, quando tiver lugar a próxima eleição europeia, quero poder dizer a pessoas em toda a Europa, incluindo o Reino Unido, que a Comissão Europeia deu ouvidos às suas preocupações e mudou a UE para melhor."

Mas Charles Grant, diretor do Centro de Reforma Europeia, disse: "Tenho certeza que lorde Hill é um bom homem, mas não é uma das figuras de peso do governo. Cameron não quis tornar necessária uma eleição especial, o que seria o caso se tivesse nomeado um deputado para o cargo. Esse fato envia a seus parceiros o sinal de que a preocupação principal é administrar o partido.

Enviar um relativo peso pena a Bruxelas sugere que Cameron não vê esse dossiê como sendo muito importante."

Grant acrescentou: "A substituição de Hague, que, como ministro do Exterior, tinha acabado por entender que a participação na Europa é algo que multiplica a força da política externa britânica, por Philip Hammond, que já declarou abertamente que votaria pela saída da Europa nos termos atuais, também vai transmitir uma mensagem negativa".

Enquanto isso, o novo ministro do Exterior, Philip Hammond, já disse que votará pela saída do Reino Unido da UE, a não ser que as condições de sua participação sejam renegociadas.

"Acredito que precisamos negociar uma solução melhor, que funcione melhor para o país, se quisermos continuar dentro da UE", ele disse no ano passado.

Eurocéticos conservadores se sentirão incentivados pela nomeação de Hammond, porque viam o ministro que está deixando o cargo, William Hague, como tendo aderido aos instintos pró-europeus do Ministério do Exterior, tornando-se favorável à ação europeia coletiva em uma série de questões.

Mas já há dúvidas quanto às chances de Hammond continuar na pasta das Relações Exteriores após a eleição de 2015, mesmo que a eleição resulte em vitória conservadora. Consta que o cargo seria cobiçado pelo ministro da Economia, George Osborne. Nesse caso, Hammond seria um ministro do Exterior temporário, que não continuaria no cargo na fase que antecederia um referendo [sobre a saída do Reino Unido da UE].

Tradução de CLARA ALLAIN


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