Folha de S. Paulo


Em SP, presidente do Equador defende banco sul-americano

O presidente do Equador, Rafael Correa, defendeu, em conferência proferida nesta terça (15) em São Paulo, que os próprios países latino-americanos se articulem para se ajudarem a superar crises econômicas e de liquidez.

Questionado sobre a integração entre os países da região, Correa se mostrou a favor de que o comércio e as transações financeiras não sejam feitas em moeda estrangeira –ou seja, em dólar.

Além disso, defendeu projetos como o Banco do Sul, um fundo monetário de países sul-americanos que auxilie nações vizinhas que passam por crises econômicas, como a Argentina, sem que seja necessário recorrer a instituições ligadas a países centrais, como o FMI.

Rafael Correa, que voltou nesta terça (15) de São José dos Campos (SP) e segue nesta quarta (16) para Brasília, proferiu a conferência sobre educação e economia no Equador a convite da USP, na Faculdade de Direito.

Frequentemente interrompido por aplausos, Correa fez críticas ao neoliberalismo em sua fala e apresentou dados positivos na economia e na educação de seu país obtidos, segundo ele, ao optar pela agenda socialista de seu governo.

Sebastiao Moreira/Efe
O presidente do Equador, Rafael Correa, durante evento nesta terça (15) à noite na Faculdade de Direito da USP
O presidente do Equador, Rafael Correa, durante evento nesta terça (15) na Faculdade de Direito da USP

Correa, economista de formação, defendeu que "o desenvolvimento [econômico] é uma questão política". Ele iniciou sua fala lembrando da crise econômica enfrentada pelo Equador em 1999, resultado da aplicação, segundo ele, de um projeto de gestão neoliberal do país, que resultou no congelamento dos depósitos bancários e na imigração de mais de 2 milhões de habitantes.

"A solução da crise foi recuperar o poder dos mercados e entregá-lo à sociedade", afirmou. "Se antes quem mandava no Equador eram os banqueiros, os credores e o capital internacional, hoje quem manda é o povo."

Ele também atribuiu a crise econômica europeia e a demora em sua resolução às teorias aplicadas pelas grandes instituições financeiras, como o FMI e o Banco Central Europeu.

O presidente defendeu as políticas de distribuição de renda aplicadas pela sua gestão dizendo que "o melhor indicador da boa vontade da política econômica não é a taxa de crescimento, mas a diminuição da pobreza, principalmente a pobreza extrema".

Apesar disso, afirmou que sua gestão, iniciada em 2007 –ele cumpre atualmente seu terceiro mandato– mantém uma taxa média de crescimento do PIB de 4,3% ao ano, tendo sido, segundo ele, um dos países da América Latina que mais reduziram a pobreza no período.

ESQUERDAS CLÁSSICAS

Em sua defesa do modelo que chama de "socialismo do século 21", Correa afirmou que as novas esquerdas devem usar novos modelos de gestão em relação às experiências do século anterior.

"Um dos erros do socialismo clássico foi negar aos mercados o direito de existir. Mas uma coisa é ter uma sociedade com mercados, e outra é ter uma sociedade de mercado", disse.

Ele ainda exaltou o fato de ter implantado seu modelo de forma "totalmente democrática" e se defendeu, sem fazer referências diretas, de acusações de censura à imprensa crítica ao seu governo.

"No Equador se perseguem delitos, não pessoas", ressaltou.

Em relação às políticas educativas, que ocuparam boa parte de seu discurso, o presidente ressaltou o oferecimento de pré-escola pública e de universidades públicas (em contraposição a instituições privadas "de garagem", que disse terem proliferado no país na década de 90) como forma de o país produzir inovação e ganhar independência em relação às nações desenvolvidas.

Para ilustrar seu ponto, utilizou uma frase de Simón Bolívar: "Não nos conquistarão pela força, mas pela ignorância".


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