Folha de S. Paulo


Na TV, Sarkozy diz que é vítima de processo "grotesco"

Um dia após ser indiciado por corrupção e tráfico de influência, o ex-presidente da França Nicolas Sarkozy disse que é vítima de uma acusação "grotesca", emcampada por "juízes militantes" de esquerda.

Com voz pausada e assertiva, o ex-mandatário de centro-direita acusou ministros do sucessor socialista François Hollande de instrumentalizar a Justiça.

Na entrevista, a primeira desde que deixou a Presidência em 2012, Sarkozy adotou um tom de candidato, apesar de dizer que só decidirá seu futuro político em setembro.

"As acusações são grotescas. Foi por vontade de me humilhar que me convocaram sob o estatuto da detenção provisória () Quem gostaria de estar diante de juízes com obsessão política de destruí-lo?", disse Sarkozy, em entrevista concedida a jornalistas do canal de TV TF-1 e da rádio Europe 1.

O contra-ataque do presidente foi dirigido contra as juízas de instrução Patricia Simon e Claire Thépaut - esta última que já militou no sindicato da magistratura, que foi autor de duras críticas a Sarkozy durante a campanha presidencial de 2012.

"Foi vingança. Foi a violação do princípio fundamental de que todo cidadão tem direito a um juiz imparcial. Quem gostaria de ter pela frente um magistrado com obsessão política de destruí-lo?", disse.

Sarkozy é o primeiro ex-chefe de Estado da Quinta República, fundada por Charles de Gaulle em 1958, a ter sido detido provisoriamente para depor em um inquérito judicial. Ele foi indiciado sob suspeita de corrupção, tráfico de influência e violação de segredo judicial.

Ontem, ele passou 15 horas em uma delegacia depondo sobre suspeitas de que teria prometido fazer lobby para a nomeação de Gilbert Azibert, magistrado da mais alta corte francesa, para um cargo no principado de Mônaco.

Segundo a acusação, Azibert deu informações sigilosas sobre uma outra investigação sobre o suposto financiamento ilegal pelo ditador deposto da Líbia Muammar Gaddafi para sua campanha presidencial de 2007. As suspeitas de tráfico de influência surgiram em interceptações telefônicas.

Ele negou ter praticado qualquer irregularidade na relação com Azibert e disse que as escutas telefônicas se prolongaram injustificadamente.

O escândalo atingiu Sarkozy em um momento em que ele aparece à frente de Hollande e da líder da extrema-direita Marine Le Pen em pesquisas para a eleição presidencial de 2017. Indagado sobre se poderia assumir a presidência de seu partido, Sarkozy disse que vai refletir até meados de setembro sobre seu futuro.

Com um tom de candidato, negou que os problemas com a Justiça o façam desistir da vida política. "Diante do país, nós temos um dever, não direitos. Eu olho com consternação a situação da França. Eu conheço a inquietude e o sofrimento dos franceses. Não sou um homem que se acovarda diante da vilania e da manipulação política".

INVESTIGAÇÃO

Sarkozy e seu advogado Thierry Herzog são suspeitos de prometer ao procurador da Corte de Cassação, Gilbert Azibert, um cargo no principado de Mônaco em troca de informações sigilosas da investigação sobre um caixa dois da campanha presidencial de 2007, supostamente abastecido pelo ditador líbio Muammar Gaddafi.

No curso da investigação, Sarkozy e Herzog tiveram os telefones grampeados com autorização da Justiça e passaram a se comunicar com celulares registrados em nomes de terceiros. Foi a partir da captura de diálogos nestes aparelhos que surgiram os indícios de tráfico de influência no Judiciário.

Em caso de condenação, o crime é punido com até dez anos de prisão e multa.

AFP
Montagem com foto de Thierry Herzog, Nicolas Sarkozy e Gilbert Azibert, denunciados pela procuradoria
Montagem com foto de Thierry Herzog, Nicolas Sarkozy e Gilbert Azibert, denunciados pela procuradoria

Este não é o primeiro escândalo envolvendo suspeitas de caixa dois na campanha que Sarkozy levou à Presidência.

Em outubro de 2013, a Justiça o excluiu, por falta de provas, do processo sobre supostos repasses a seu partido feitos por Lilliane Bettencourt, herdeira da gigante dos cosméticos L'Oréal.

Em maio passado, um ex-coordenador da campanha de Sarkozy admitiu o uso de notas frias para justificar 10 milhões de euros em despesas que ultrapassaram o teto legal dos gastos de campanha. O episódio derrubou o presidente da UMP, Jean-François Copé.


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