Folha de S. Paulo


Kerry pede ajuda a curdos e diz que EUA podem usar força militar no Iraque

O secretário de Estado americano, John Kerry, pediu nesta terça-feira aos dirigentes da região autônoma do Curdistão iraquiano que "contribuam ativamente" para achar uma solução ao conflito e participar da formação do novo governo.

Durante sua visita a Erbil, capital do Curdistão, Kerry se reuniu com o presidente curdo, Massoud Barzani, e o dirigente da União Patriótica do Curdistão (UPK) Borham Saleh.

Kerry pediu nesse encontro às autoridades curdas que "participem ativamente no futuro do Iraque e na formação do próximo governo", segundo informou à Agência Efe uma fonte do Executivo curdo.

As conversas se centraram em analisar os passos para a formação desse novo governo, pendente após as eleições parlamentares de abril passado, nas quais ganhou mas sem maioria a coalizão Estado de Direito do primeiro-ministro, Nouri al-Maliki.

O Executivo central de Bagdá não pediu por enquanto de forma oficial ajuda a Erbil para frear o avanço dos insurgentes sunitas, liderados pelo Estado Islâmico do Iraque e o Levante (EIIL).

Por sua parte, as tropas curdas ("peshmergas") tomaram o controle de algumas zonas reivindicadas tradicionalmente pelos curdos, como Kirkuk, aproveitando a debandada do Exército.

Embora não estava prevista a visita de Kerry ao Curdistão, como também foi uma surpresa a de Bagdá, desde ontem se especulava com sua escala em Erbil no marco de seu tour pelo Oriente Médio e Europa.

Perante as divisões entre as forças políticas iraquianas, Kerry pediu ontem em Bagdá à formação de um governo que represente todas as partes para dar saída ao conflito.

"Quando os xiitas, os sunitas e os curdos participem de escolher o governo, o Iraque será mais forte e seguro", ressaltou Kerry, que prometeu o apoio militar de seu país para lutar contra o terrorismo.

USO DE FORÇA MILITAR

O governo dos EUA está "plenamente preparado para usar a força militar" a fim de ajudar o Executivo do Iraque, mas não enquanto existir um vazio de poder nesse país, afirmou Kerry.

"A atenção do presidente Barack Obama e a minha está na formação de um governo" no Iraque, disse Kerry em uma entrevista à rede "CBS" de televisão em Erbil, a capital da região autônoma curda no norte do Iraque.

"Não vamos tomar uma decisão sobre o uso da força (militar) americana em uma situação de vazio de poder", assegurou Kerry, e acrescentou que qualquer ação militar dos EUA "está vinculada ao êxito a longo prazo que só pode ser obtido com uma liderança que unifique o Iraque".

Em entrevista divulgada pela emissora "CNN", Kerry disse que "o presidente se reserva a opção do uso da força".

O funcionário americano elogiou os dirigentes curdos "por sua liderança organizada, focalizada e disciplinada" que resultou na "vitalidade econômica" da região autônoma.

Kerry acrescentou que a formação de um novo governo que represente os interesses de todos os grupos étnicos e religiosos do Iraque é um requisito crucial para qualquer ação que os EUA empreendam na crise que afeta esse país.

"A chave é que, se não houver um governo viável, um governo de unidade que não repita os erros dos últimos anos, qualquer coisa que elejamos fazer teria dificuldades extraordinárias", acrescentou.

"Seria muito difícil ter êxito só com algum tipo de atividade militar porque, em última instância, não há ali uma solução puramente militar", sentenciou Kerry.


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