Folha de S. Paulo


Reeleito, presidente da Colômbia terá de costurar interesses

Para chegar à reeleição na Colômbia, o presidente Juan Manuel Santos teve de colher apoios de distintas vertentes: partidos de esquerda e de direita, empresários, as guerrilhas Farc e ELN, militares, organizações de direitos humanos e associações de proteção a vítimas do conflito.

"Sei que muitos não votaram em mim pessoalmente", disse, no seu discurso de agradecimento.

Referia-se ao fato de que esses setores se mobilizaram pela continuação das negociações de paz e para impedir o retorno da influência do ex-presidente Álvaro Uribe -cujo candidato, Óscar Iván Zuluaga, foi o vencedor do primeiro turno.

Para analistas ouvidos pela Folha, o principal desafio do presidente, agora, será manter a base de apoio e atender promessas a atores políticos que têm interesses diversos e, em alguns casos, contraditórios. "Será completamente diferente da primeira gestão", diz o sociólogo Juan Gabriel Tokatlian.

No Congresso, o panorama já é bem diferente daquele de quando chegou ao poder, em 2010. Então, Santos contava com 70% do Senado. Hoje, das 102 cadeiras, sua aliança conta com 47 senadores. Com o agravante de que o partido criado por Uribe (Centro Democrático) estreia com 21, sendo um deles o próprio ex-presidente.

Santos tentou fazer um gesto de reaproximação com o antigo padrinho político, dizendo que gostaria de chamar Zuluaga para fazer parte do governo. Uribe, porém, tem dado entrevistas quase diárias dizendo que Santos teria manipulado a eleição, fazendo com que as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) obrigassem os camponeses a votar por ele, no interior do país.

ECONOMIA

Especialistas dizem que não há razões para achar que haverá grandes alterações do ponto de vista macroeconômico. Inflação e desemprego estão sob controle, e a perspectiva de crescimento do PIB é de 4% para este ano.

Porém, fatos pontuais, como a crise agrária, poderiam detonar um descontentamento generalizado entre os que não estão satisfeitos com os tratados de livre-comércio que o governo estabeleceu.
Em greve em vários Estados, e realizando protestos na capital Bogotá, os produtores agrícolas estão revoltados com o fato de que produtos importados chegam ao mercado muitas vezes mais baratos do que os colombianos.

Santos manteve-se em silêncio no primeiro semestre, quando os agricultores foram às ruas, mas, naquela época, ainda era favorito para vencer no primeiro turno.

Quando Zuluaga tomou a dianteira, Santos resolveu fazer reuniões com os produtores e prometeu atender suas reivindicações. Como fará isso não está claro, uma vez que não pretende cancelar os tratados. Uma alternativa seria iniciar uma política de subsídios, mas, para aprová-la, seria necessário o apoio do Congresso.

Com relação ao fim do conflito com as Farc, o próximo passo desenhado pelos negociadores será acertar os termos da anistia a ex-guerrilheiros. Trata-se de um item polêmico, pois, segundo pesquisa do Instituto Gallup, 78% dos colombianos são contra.

Os meios e as organizações de direitos humanos cobram transparência sobre as negociações. Mas Santos reafirmou que os termos serão secretos enquanto as conversas se desenrolam em Havana.

Outro ponto da agenda dos primeiros meses é a reeleição. Na campanha, Santos disse que quer alterar a Constituição para pôr fim à reeleição e mudar a duração dos mandatos para cinco anos (atualmente, são quatro). Há reeleição no país porque Uribe queria alcançar a segunda gestão, em 2006.

Com relação a políticos e intelectuais progressistas, que também apoiaram Santos de última hora, o presidente terá de provar que não governa apenas para a elite "cachaca" (de Bogotá).

Por fim, terá de lidar com uma nova rival, que saiu fortalecida da eleição. É Marta Lucía Ramírez, líder conservadora, que teve 2 milhões de votos e apoiou Zuluaga no segundo turno. Com pretensões presidenciais para 2018, Ramírez declarou que seu partido fará oposição ao processo de paz.


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