Folha de S. Paulo


Análise: Tarefa de refazer a ponte entre Casa Branca e Planalto deverá ser árdua

Vem aí uma grande mexida de postos na diplomacia brasileira. O motivo é a mudança de comando na principal peça do xadrez: a embaixada em Washington.

Quem pegar o cargo terá de implementar a restauração das relações que Joe Biden veio combinar.

Essa reaproximação é desejada com intensidade similar por Dilma e Aécio. Ambos entendem que o estado da relação bilateral faz mal ao Brasil e fará muito mal ao governo empossado em janeiro.

No entanto, a tarefa de construir entendimento político de primeiro nível entre Casa Branca e Planalto será árdua. Nos principais temas da agenda, os dois países discordam ou têm interesses conflitantes. Além disso, Obama e o próximo presidente do Brasil terão pouco espaço de manobra para grandes concessões.

Nesse ambiente, a busca de uma saída honrosa para a crise da espionagem é o menor dos problemas. Diante do desafio, qual o perfil ideal para chefiar a embaixada? A história recente sugere três elementos essenciais.

O próximo embaixador tem de ser visto pelos americanos como um interlocutor privilegiado do Palácio do Planalto. Ele precisará mostrar que goza de alguma independência de seu chefe imediato, o ministro das Relações Exteriores.

Sem isso, a embaixada será vista como entreposto a ser evitado, não como alavanca a ser aproveitada para o projeto da restauração.

"O que mais importa", revela um velho assessor da Casa Branca, "é saber se a pessoa terá autoridade para telefonar à Presidência e resolver o problema antes de o vazamento chegar à imprensa."

Trata-se de uma expectativa ambiciosa, porque acesso pessoal ao gabinete presidencial é um dos bens mais escassos da Esplanada dos Ministérios. Mas é possível –já tivemos isso no passado.

O embaixador em Washington também precisará de carta branca para falar com a imprensa norte-americana. Para reverter as atitudes negativas que ainda reverberam, precisará pautá-la o tempo inteiro.

Por fim, terá de construir uma rede de relacionamentos no Congresso Nacional, em Brasília, e nas redações de jornal em São Paulo e Rio de Janeiro.

Trata-se de escudo para protegê-lo das pressões contrárias que sofrerá daqueles que, no governo e na oposição, preferem manter os Estados Unidos à distância.

O próximo embaixador pode ser extrovertido ou reservado, barulhento ou discreto. Só não poderá deixar de ser um animal político.


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