Folha de S. Paulo


Disputa apertada define eleição colombiana

A previsão de tempo chuvoso na costa colombiana e a perspectiva de uma maratona de três jogos na Copa do Mundo estão tirando o sono dos chefes de campanha de Juan Manuel Santos.

Para vencer as eleições deste domingo (15), o atual mandatário precisa que os eleitores da região costeira, seu tradicional nicho eleitoral, se animem a sair de casa para votar.

Ali, onde a abstenção foi de 70% no primeiro turno, travou-se a parte mais agressiva de sua última semana de campanha. O voto não é obrigatório no país.

Editoria de Arte/Folhapress
SEGUNDO TURNO NA COLÔMBIAPesquisas dão empate técnico entre Santos e Zuluaga
SEGUNDO TURNO NA COLÔMBIAPesquisas dão empate técnico entre Santos e Zuluaga

Enquanto isso, seu rival, Óscar Iván Zuluaga, vencedor do primeiro turno por apenas três pontos percentuais, concentrou sua ação nas regiões onde seu discurso linha-dura contra as negociações que o governo leva adiante desde o final de 2012 com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) é mais potente: a zona da Antioquia, cuja capital é Medellín, e o interior do país.

As mais recentes pesquisas apontam para uma vitória apertada de Zuluaga ou para um empate técnico.

A consultoria que dá o resultado mais folgado para o candidato opositor, apoiado pelo ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010), é a Ipsos, com oito pontos de diferença.

A Cifras y Conceptos e a Datexco indicam apenas três pontos percentuais a favor de Santos. Já a Gallup mostra menos de um ponto de diferença entre ambos.

"Tudo vai depender do comparecimento dos eleitores. Se for baixo, como no primeiro turno, Zuluaga ganha", diz o analista político Juan Gabriel Tokatlian.

A última semana de campanha viu um Santos candidato bem diferente.

Favorito à reeleição em primeiro turno até janeiro, o presidente quase não havia comparecido a debates e sua campanha foi discreta.

Com a economia colombiana passando por um bom momento –o país tem crescimento acima de 4% do PIB e baixa inflação– e um acordo de paz com as Farc em andamento, Santos manteve-se otimista.

OPORTUNISMO

Enquanto isso, o ex-presidente Uribe começou a ganhar espaço político ao eleger-se senador nas eleições legislativas de março.

Oportunista, aproveitou o momento em que Santos começou a falar abertamente em fazer concessões à guerrilha (anistia e representação política) para impulsionar seu candidato a presidente.

Segundo pesquisa do Gallup, 78% dos colombianos repudiam que ex-guerrilheiros tenham acesso a cadeiras do Congresso sem pagar por seus crimes.

Com o marqueteiro brasileiro Duda Mendonça fazendo a campanha, Zuluaga passou a defender a suspensão das negociações iniciadas por Santos e a volta de uma solução bélica.
Mendonça criou uma marca de campanha para Zuluaga, uma letra "z" que o identificava com o personagem justiceiro Zorro.

Nos últimos dias, levou ao ar um spot que mostrava uma mulher, inconformada com o sistema educacional, criticando o governo e atirando laranjas à frente com raiva.

O vídeo teve 1 milhão de visualizações em um dia. "É uma final de Copa do Mundo que eu disputo contra o presidente, a imprensa, a Alemanha e a Espanha. Mas quero ganhar!", disse Duda Mendonça à Folha.
Na última semana, confiando em sua dianteira, Zuluaga recolheu-se, alegando uma forte gripe.

Já Santos foi a programas de TV, buscou aparecer com empresários, políticos conservadores e de esquerda e até acenou para Uribe, dizendo que poderia dar-lhe um lugar no governo se ele amenizasse suas posições.

Na última terça-feira (10), anunciou o início de negociações de paz também com o ELN (Exército de Libertação Nacional), segunda maior guerrilha da Colômbia.
Os uribistas criticaram, dizendo ser uma jogada de oportunismo eleitoral.

Já Santos fez do anúncio um palco para mostrar que tem amplo apoio internacional, uma vez que o acordo teve ajuda de países como o Brasil e o Equador e foi elogiado pela ONU.

"É evidente que há uma apreensão regional quanto à vitória de Zuluaga. Primeiro em razão da Venezuela. Santos reaproximou os dois países e o candidato de Uribe aponta para confronto. Santos também amenizou as relações com o Equador, manchadas desde a ação para matar o guerrilheiro Raul Reyes [das Farc] em seu território, em 2008", diz Tokatlian.


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