Folha de S. Paulo


Bogotá simboliza crescimento colombiano

"Em 2006, quando a turnê Vertigo', do U2, veio à América do Sul, fui a São Paulo para assistir. Quando eles voltaram, em 2011, preferi Buenos Aires, que estava mais barata. Mas sempre foi difícil para os colombianos ver shows ao vivo. Tínhamos um estigma de ser um país violento e de criminosos, as bandas e orquestras internacionais não queriam vir para cá. Isso está mudando."

Para exemplificar, Javier Pérez, 35, doutorando em economia na Universidad de los Andes, conta que, em abril, acompanhou o sobrinho para assistir aos Pixies em Bogotá, dentro do festival Estereo Picnic, que reuniu ainda o Red Hot Chili Peppers e o Capital Cities.

Boa performance econômica, reformas urbanísticas duradouras, investimento estrangeiro e melhoria geral das condições de segurança nas grandes cidades vêm desfazendo a imagem da Colômbia como local de alto risco.

O PIB deve aumentar 4,5% neste ano, segundo previsão do Banco Mundial (o Brasil não deve passar de 2%).

Desde 2010, o país cresce no mínimo 4%.

Jose Miguel Gomez - 25.mai.14/Reuters
Ciclistas participam de campanha do ex-prefeito Peñalosa
Ciclistas participam de campanha do ex-prefeito Peñalosa

A economia é a maior esperança para a reeleição do presidente Juan Manuel Santos no pleito de domingo (15).

Seu oponente, Óscar Iván Zuluaga, aposta na rejeição à negociação de paz com as Farc. Ambos aparecem em empate nas pesquisas.

A melhor expressão do bom momento do país é Bogotá, hoje uma capital cultural da América andina e terreno aberto para investimentos gastronômicos.

"Tem sido muito mais fácil trazer marcas internacionais para se instalar aqui. Seja uma grife de moda ou design, seja o estabelecimento de um grande chef estrangeiro. Os estrangeiros se impressionam com os bons números da economia", diz David Melo, da Invest in Bogotá, ligada à Câmara de Comércio e à prefeitura da cidade.

A chamada "zona G", no norte da cidade, é a mais conhecida dos turistas, com hotéis-boutique e restaurantes.

Na última quinta-feira (12), no Oyster 69, estrelado restaurante de comidas do mar, um grupo de empresários franceses jantava. "Não acho Bogotá perigosa, passo aqui cinco meses ao ano. Adoro ir ao cinema, não fico fora de sintonia com a produção europeia", diz Laurent Doyle.

O engenheiro diz que frequenta o Cinemania, complexo que projeta só cinema independente estrangeiro.

As mudanças em Bogotá não foram repentinas. Com administrações como a de Enrique Peñalosa (1998-2001) –que ficou em quinto lugar no primeiro turno da eleição presidencial–, várias reformas urbanísticas e de transportes foram realizadas. Construíram-se novos sistemas integrados de ônibus, ciclovias, redes de bibliotecas.

Conjugados com a política de segurança linha-dura da gestão do presidente conservador Álvaro Uribe (2002-2010), que aumentou o policiamento ostensivo, a cidade tornou-se mais convidativa para passeios noturnos, idas a concertos e shows.

Bogotá recebe 1 milhão de estrangeiros todo ano. Em 2002, eram apenas 400 mil. Antes, chegava-se à capital colombiana para fazer conexões com outros destinos, mas hoje mais de 50% ficam apenas em Bogotá.

"Isso causou uma reestruturação também da rede hoteleira. Os velhos hotéis do centro foram perdendo espaço para redes estrangeiras, como Marriott e Hilton, que abriram hotéis com perfil mais business' nos bairros da moda", diz Melo.

Na tarde da última sexta (13), um grupo de jovens engravatados norte-americanos almoçava numa das lojas da cadeia de cafés Juan Valdez.

"A gente vem aqui porque é familiar, parece o Starbucks, mas tem arepas' [pãozinho típico colombiano, de milho moído]", diz um deles.

A contrapartida foi o abandono do centro. Com a mudança do centro financeiro e gastronômico para outras zonas mais modernas, a Bogotá romântica dos anos 40/50 hoje se degrada com o crescimento do comércio de rua –60% da população ativa está na informalidade.


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