Folha de S. Paulo


Uma nova geração reclama o papel de protagonista, diz rei Juan Carlos

O rei espanhol Juan Carlos, 76, afirmou que abdicou em favor do filho Felipe, 46, para que uma "nova geração" assuma as reformas necessárias para o país.

Em um breve comunicado transmitido pela televisão nesta segunda, o rei disse que tomou em janeiro a decisão de passar o trono a Felipe, o príncipe das Astúrias.

Segundo ele, o filho "encarna a estabilidade" que marca a instituição monárquica. "O príncipe das Astúrias tem a maturidade, a preparação e o sentido de responsabilidade necessários para assumir com plenas garantias a chefia do Estado e abrir uma nova etapa de esperança combinando a experiência adquirida e o impulso de uma nova geração"", afirmou.

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"Despertou-se em nós um impulso de renovação para abrir o caminho a um futuro melhor. Uma nova geração reclama com justa causa o papel de protagonista. Hoje merece passar à primeira linha uma geração mais jovem, com novas energias, decidida a empreender com determinação as transformações e reformas que a conjuntura atual está demandando", disse.

E ressaltou: "Quero o melhor para a Espanha. Quero desejar minha gratidão ao povo espanhol. Guardarei a Espanha no lugar mais fundo do meu coração".

Em seu discurso, o rei não deixou de mencionar a crise econômica recente que atinge a Espanha: "A profunda crise econômica que padecemos deixou sérias cicatrizes na área social, mas também nos indica um caminho de futuro carregado de esperança". "Esses difíceis anos nos permitiram fazer um balanço autocrítico de nossos erros e nossas limitações como sociedade", ressaltou.

O rei espanhol assumiu em 22 de novembro de 1975, com a volta da monarquia ao país. Felipe de Bourbon recebeu em 1977 o título de Príncipe das Astúrias e agora deve ser coroado como rei Felipe 6º.

A decisão de Juan Carlos em abdicar do trono ocorre em meio a recente turbulência na família real, com escândalo de corrupção envolvendo sua filha Cristina, e o marido dela Iñaki Urdangarin, suspeitos de crime fiscal e lavagem de dinheiro por meio de uma ONG.

Recentemente, a justiça espanhol arquivou as acusações contra Cristina e seu marido foi afastado das atividades da família real. O episódio desgastou a família real, que perdeu popularidade entre os espanhóis, agravada também pela crise financeira que atingiu o país nos últimos anos.

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A decisão de Juan Carlos foi anunciada nesta segunda pelo presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy. "Encontrei o rei convencido de que este é o melhor momento para produzir com toda normalidade a mudança da chefia do Estado e a transmissão da coroa ao Príncipe das Astúrias", disse Rajoy. "Renuncia ao trono uma figura histórica, tão extremamente vinculada à democracia espanhola", afirmou.

Juan Carlos se torna o terceiro monarca a tomar decisão deste tipo na Europa em menos de dois anos. Antes dele, a rainha Beatriz, da Holanda, e o rei Alberto 2º, da Bélgica, também havia optado por passar a coroa aos herdeiros.

Um Conselho de Ministros extraordinário será convocado para cuidar da tramitação legal da mudança, incluindo a aprovação de uma Lei Orgânica, como exige a constituição espanhola. "Estou convencido de que nós, espanhóis, saberemos escrever essa nova página de nossa história em um clima sereno", ressaltou o presidente espanhol.

Editoria de Arte/Folhapress

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