Folha de S. Paulo


Setor da esquerda colombiana dá inédito apoio à reeleição de Santos

A União Patriótica (UP) e Marcha Patriótica, os movimentos políticos mais esquerdistas da Colômbia, confirmaram na quinta-feira (29) apoio à reeleição do presidente Juan Manuel Santos no segundo turno das eleições, em 15 de junho, enquanto o Polo Democrático Alternativo se absteve de fazê-lo.

O inédito apoio a Santos, um político neoliberal, foi uma demonstração de apoio aos diálogos de paz que o governo iniciou com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em novembro de 2012 em Cuba e que já promoveram acordos em três pontos –terras, participação política e narcotráfico.

"Pensamos que o melhor neste momento é apoiar ao candidato que abriu os diálogos e que vai pelo caminho da solução política e negociada", disse em entrevista coletiva o líder da UP, Aída Avella.

Avella, que passou 17 anos no exílio na Suíça após sair ilesa de um atentado sofrido em 1996 em Bogotá, concorreu nas eleições de domingo como companheira de chapa à vice-presidência de Clara López, do Polo Democrático Alternativo (PDA), coalizão que obteve o quarto lugar com quase dois milhões de votos (15,23%).

A UP nasceu em 1985 por acordo entre as Farc e o governo do então presidente colombiano, Belisario Betancur, e durante os anos 80 e 90 sofreu um genocídio com o assassinato sistemático de quatro mil militantes, entre eles dois candidatos presidenciais, congressistas, prefeitos e vereadores.

"Nosso dever é impedir que a guerra volte a este país", disse Avella em referência a uma hipotética vitória no segundo turno do candidato do Centro Democrático, Óscar Iván Zuluaga, apoiado pelo ex-presidente e senador eleito Álvaro Uribe e que ficou à frente de Santos no primeiro turno, realizado no domingo (25), com 29,25% dos votos.

O PDA também debateu qual postura adotar para o segundo turno e decidiu pelo voto em branco ou abstenção, como defendido pelo senador Jorge Robledo, em vez do apoio a Santos sugerido pelo senador eleito Iván Cepeda.

"Por milhões de vítimas que meio século de guerra deixou, pelo futuro da pátria, em 15 de junho voto pela paz (que não é Zuluaga)", disse no Twitter Cepeda, filho de Manuel Cepeda, senador da UP assassinado em 1994 por agentes do Estado, crime que foi declarado contra a humanidade pela procuradoria.

Robledo, por sua vez, afirmou que "Santos e Zuluaga são a mesma coisa" e que com nenhum deles "a horrível noite que a Colômbia está imersa acabará".

"A pior ou das piores heranças que Álvaro Uribe deixou à Colômbia foi a presidência de Juan Manuel Santos", disse Robledo.

A Marcha Patriótica, movimento político que nasceu em 2012 como um conglomerado de organizações camponesas e estudantis e que desde o governo de Santos foi relacionado em diversas ocasiões com as Farc, também divulgou apoio à reeleição do presidente.

O líder da Marcha Patriótica, a ex-senadora Piedad Córdoba, disse que o fim do conflito é o "grande anseio" da Colômbia.

"A paz tem a ver com tudo. Conseguir a paz gerará condições para finalmente construir um novo país", manifestou Córdoba.

Apesar de a Marcha ter dito no Twitter que a paz não se escreve "nem com Z de Zuluaga, nem com S de Santos", também afirmou que "a paz de Zuluaga é um falso positivo", em alusão às execuções extrajudiciais de cerca de três mil civis pelo exército durante o governo de Uribe, quando Santos era ministro da Defesa.

O jornal "El Espectador" publicou que a direção nacional da Marcha Patriótica se reunirá com Santos na próxima terça-feira para formalizar o apoio.

Antes do primeiro turno, Santos recebeu o apoio de Progressistas, outro bloco de esquerda liderado pelo prefeito de Bogotá, Gustavo Petro.

O apoio da esquerda colombiana a Santos é inédito e responde à conjuntura das negociações com as Farc, já que durante os últimos quatro anos esse setor foi um firme opositor às políticas neoliberais e protagonizou múltiplos protestos sociais.


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