Folha de S. Paulo


Derrota eleitoral ameaça dinastia Gandhi na Índia

Pode ser prematuro escrever o obituário político da família Nehru-Gandhi na Índia. Mas a surra que o Partido do Congresso, liderado por Sonia Gandhi, levou nas eleições certamente ameaça a sobrevivência da dinastia.

O partido do Congresso governou a Índia na maior parte dos 67 anos desde a independência do país da Inglaterra. Sempre teve a dinastia Gandhi à frente.

Nesta eleição, o Partido do Congresso foi atropelado pelo furacão Narendra Modi, hoje o primeiro-ministro da Índia, do Bharatiya Janata Party. O Congresso passou de 206 para apenas 44 dos 543 assentos na Lok Sabha, espécie de câmara dos deputados. É o pior resultado da história do partido e o principal culpado já foi "eleito" –Rahul Gandhi, filho de Sonia, cotado para primeiro-ministro.

B Mathur/Reuters
Sonia Gandhi, a filha Priyanka, o genro Robert Vadra e o filho Rahul, em Nova Déli, em 2009
Sonia Gandhi, a filha Priyanka, o genro Robert Vadra e o filho Rahul, em Nova Déli, em 2009

Sonia é viúva do ex-primeiro-ministro Rajiv Gandhi, que era filho da ex-primeira ministra Indira Gandhi. Indira era filha do primeiro-ministro Jawaharlal Nehru, um dos fundadores da nação. Mahatma Gandhi (sem parentesco) era seu mentor.

Rahul não empolgava nem os maiores fãs da dinastia Gandhi. Inexperiente, não tinha carisma e nem parecia interessado em política.

Foi um candidato relutante. Passava boa parte do tempo jogando em seu celular. E era dado a gafes colossais."A pobreza é apenas um estado de espírito, não significa falta de comida, dinheiro ou coisas materiais; se uma pessoa tem autoconfiança, consegue superar a pobreza", disse Rahul. Na Índia, 32% da população vive com menos de US$ 1,25 por dia.

A mais carismática da família é a irmã de Rahul, Priyanka. Mas reluta em entrar na política, porque tem um marido acusado de corrupção.

Depois do massacre, tanto Sonia quanto Rahul se ofereceram para se demitir dos cargos no partido "" oferta simbólica, que foi recusada.

"Eu espero que essas eleições signifiquem o fim dos Gandhi na política; gostaria de ver o partido do Congresso emergir como uma força política independente da família", disse à Folha Sanjaya Baru, autor do "best-seller" "O Primeiro-Ministro Acidental", sobre Manmohan Singh.

O problema é que não há nenhum outro líder óbvio no partido. E os Gandhi ainda mantêm grande parte de seu apelo. Pelos contornos trágicos de sua história, são considerados os Kennedy da Índia.

A primeira-ministra Indira Gandhi foi assassinada por seus guarda-costas Sikhs. O filho dela, Rajiv (pai de Rahul), foi pressionado a assumir como primeiro-ministro. Sete anos depois, ele foi assassinado por um ataque suicida de um separatista do Sri Lanka. Por ser estrangeira, Sonia, nascida na Itália, enfrentaria muita resistência para ser primeira-ministra. Em 2004, e indicou Manmohan Singh.

"A eleição não significa necessariamente o fim da família Gandhi na política", diz o analista político Swapan Dasgupta. "Mas Rahul terá que demonstrar que é mais sério; ele é visto como um mero portador do seu sobrenome e a Índia não é a família Gandhi."


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