Folha de S. Paulo


Famílias de vítimas do 11 de Setembro não querem restos mortais em museu

Familiares das vítimas dos atentados ao World Trade Center receberam com indignação a notícia de que os restos mortais de pessoas não identificadas serão transferidos, em menos de uma semana, para o Museu Nacional do 11 de Setembro, que será aberto ao público no próximo dia 21.

Eles foram avisados, na última segunda-feira, por e-mail, que os restos mortais serão levados do laboratório onde estavam para um local no subsolo do museu não acessível ao público em geral.

Os familiares, no entanto, teriam acesso a uma "sala de reflexão" perto do local que servirá de jazigo, a partir do dia 15 de maio. O museu ficará aberto por 24 horas durante uma semana, antes da inauguração oficial, só para os familiares das vítimas.

Segundo Sally Regenhard, vice-presidente do grupo Pais e Familiares dos Bombeiros e Vítima do World Trade Center, uma pesquisa feita dois anos atrás mostrou que 94% das famílias se opõem à ideia de depositar os restos mortais no subsolo do museu.

"É muito inapropriado levar à frente um plano para colocar milhares de restos humanos no subsolo do museu sem consultar as famílias e sabendo que há uma forte oposição a isso", disse Regenhard à CBS News.
"Restos mortais não deveriam ser uma ferramenta de marketing para uma entrada que custa US$ 24. É uma desgraça, é um sacrilégio", completou.

Além do valor cobrado, alguns familiares também apontam os riscos de inundação do local, próximo ao rio Hudson, para justificar a posição contrária.

"O pior é que eles farão isso um dia antes do Dia da Mães, que é a data mais cruel para nós", afirmou Regenhard, que perdeu o filho Christian nos atentados.

O grupo pediu ao prefeito de Nova York, Bill de Blasio, que adie a transferência até que as famílias sejam consultadas.

Cerca de 41% das 2.753 vítimas dos ataques de 2001 -isto é, 1.115 delas- não foram identificadas, segundo os legistas responsáveis. Dos 21.906 restos mortais encontrados no local, 7.930 continuam sem identificação até hoje.

Charles G. Wolf, que perdeu sua mulher, Katherine, diz não ter recebido nem mesmo o e-mail da prefeitura. "Isso é uma tremenda mancada", afirmou ao "New York Times", depois de tentar contato com os responsáveis pelo telefone presente na mensagem encaminhada por um amigo. "Eles querem que a gente deixe um número para eles retornarem a ligação. Isso é totalmente ineficaz."

Monica Iken, que ainda não recebeu nenhum resto mortal do marido, Michael, no entanto, disse ter gostado da solução e afirmou que participará da cerimônia no sábado. "Eu tenho esperado esse dia por quase 13 anos. E ele precisa que eu esteja lá."


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