Folha de S. Paulo


Primeiro-ministro palestino renuncia para criação de novo governo

O primeiro-ministro palestino, Rami Hamdallah, apresentou nesta sexta-feira sua renúncia ao presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, dois dias depois de ser anunciado o acordo de reconciliação com o movimento islamita Hamas e a formação de um gabinete de unidade transitória.

Segundo a agência de notícias oficial palestina "Wafa", Hamdallah pôs nesta tarde seu cargo e os dos ministros à disposição de Abbas, para que dissolva o gabinete quando achar oportuno. A medida abre caminho para um governo de unidade acertado entre o Fatah, partido de Abbas, e o Hamas, que controla a Faixa de Gaza.

"Apresento minha renúncia. O governo está agora em suas mãos, excelência, para o que o senhor quiser", disse Hamdala a Abbas, segundo a agência.

Hamdallah, cujo papel está limitado à governança interna da Cisjordânia, já havia apresentado sua renúncia no ano passado em uma disputa sobre seus poderes, mas recuou pouco depois.

O pacto de reconciliação acordado na quarta-feira (23) entre o Hamas e o Fatah prevê a busca de um governo de união dentro de cinco semanas e a realização de eleições seis meses depois.

O enésimo plano de reconciliação palestina foi recebido com hostilidade pelo primeiro-ministro israelense, Benyamin Netanyahu, que acusou Abbas de não querer a paz.

Na quinta-feira (24), Israel suspendeu as negociações de paz com os palestinos, afirmando que não pode negociar com um governo que abraça um grupo militante que defende a destruição do Estado judeu, referindo-se ao Hamas.

Segundo o acordo, o Hamas se compromete a respeitar todos os acordos assinados previamente pela ANP e pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP) com Israel, o que na teoria inclui o reconhecimento desse último Estado por parte do movimento islamita.

As negociações de paz entre Israel e Palestina, mediadas pelos Estados Unidas e retomadas ano passado, perderam força com desentendimentos entre as partes na última semana. Além disso, o prazo para as conversas expiraria de qualquer forma na terça (29) e não há previsões de prolongamento.

No entanto, a oposição israelense e diversos países europeus e latino-americanos receberam o acordo com agrado, já que coincidem em que a unidade palestina é um passo vital para a estabilidade e a paz na região.

Não houve eleições nacionais desde que o Hamas venceu as eleições parlamentares em 2006, levando a uma breve guerra entre o Hamas e o Fatah do ano seguinte, quando o grupo militante assumiu o controle da Faixa de Gaza.

No vácuo político que se seguiu, Abbas nomeou pessoalmente Hamdallah e seu antecessor, Salam Fayyad, enquanto o próprio primeiro-ministro do Hamas, Ismail Haniyeh, governou em Gaza.

REUNIÃO

A decisão do primeiro-ministro veio a público poucas horas antes de o Conselho Central Palestino se reunir em Ramallah para pactuar e elaborar uma nova estratégia.

Fontes palestinas explicaram que a reunião, que começará na manhã de sábado na Muqata, sede do governo palestino, tem como objetivo estudar a situação criada após o acordo com o Hamas e a decisão posterior do governo israelense de suspender o diálogo que os Estados Unidos promovem.


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