Folha de S. Paulo


Times de futebol levam a campo a divisão da Ucrânia

A dualidade que divide a Ucrânia e tem causado confrontos estará reproduzida nesta quarta-feira, às 14h do horário de Brasília, no maior clássico do futebol local, na capital Kiev, pelo campeonato nacional.

Os principais clubes ucranianos, Dínamo de Kiev e Shakhtar Donetsk, representam as recentes cisões políticas e geográficas que resultaram em manifestações, violência, deposição do presidente Viktor Yanukovich em fevereiro e mais de 80 mortes no país.

O Dínamo sedia-se na região que apoia majoritariamente a aproximação com a União Europeia e rejeita maiores vínculos com a vizinha Rússia.

Já o Shakhtar é do leste, onde predominam o idioma russo, as manifestações pró-Moscou e o apoio a Yanukovich, que foi governador na sua província.

O dono do clube, Rinat Ahkmetov, homem mais rico do país, era amigo do ex-presidente e acusado de financiá-lo em troca de benefícios econômicos.

Os dois times só não ganharam um dos 22 Campeonatos Ucranianos disputados após o fim da União Soviética -exatamente o primeiro, em 1992.

O Dínamo ostentava nove conquistas consecutivas quando o time de Donetsk comemorou de maneira inédita, em 2002.

A equipe de Kiev possui 13 títulos, mas o Shakhtar, dono de oito, ganhou as últimas quatro competições.

"É uma rivalidade bem forte. Querendo ou não, [o jogo] envolverá política. Sem dúvida, vai apimentar mais o clássico", afirmou o lateral direito Danilo Silva, do Dínamo.

"Kiev foi o único lugar onde apedrejaram o ônibus do Shakhtar. Às vezes tem briga entre as torcidas [organizadas]", disse o assistente técnico Antônio Carlos Zago, que relatou chegada tranquila da delegação de Donetsk na noite desta terça-feira.

"O fato de ser estrangeiro é indiferente, você incorpora o sentimento dos clubes", relatou o zagueiro Betão, que defendeu o Dínamo entre 2008 e 2012.

"Sem dúvida. Você vive o clima do clube e da cidade, acaba levando consigo esse espírito, de brigar por Kiev, pelo lado ucraniano. A gente sente isso no dia a dia", acrescentou Danilo Silva.

Katia Christodoulou - 20.fev.2014/Efe
Danilo Silva (à direita), do Dínamo, em jogo contra o Valencia, da Espanha, em campo neutro, no Chipre, pela Liga Europa
Danilo Silva (à direita), do Dínamo, em jogo contra o Valencia, da Espanha, em campo neutro, no Chipre, pela Liga Europa

A partida desta quarta-feira, entretanto, tem ficado em segundo plano por causa da turbulência no país.

"Pela situação, não estão falando muito de futebol. [Os veículos de comunicação] Têm dado menos ênfase para o clássico", lamentou Danilo.

Em Donetsk, Zago acompanha o noticiário sobre invasões de manifestantes de origem russa a prédios de órgãos públicos. "Não atrapalha nosso dia a dia, mas a gente evita o centro da cidade", disse.

Permanece a tensão sobre uma eventual guerra –civil ou contra a Rússia. "Todos estão preocupados", admitiu o ex-zagueiro de São Paulo, Palmeiras, Corinthians e Santos.

Cerca de 40 jogadores brasileiros foram inscritos no atual campeonato. O Shakhtar costuma ser o recordista. Hoje reúne dez atletas nascidos no Brasil, incluindo o meia-atacante Bernard, da seleção.

CRIMEIA

Está agendada para esta quinta-feira uma partida do Campeonato Ucraniano entre os dois times da Crimeia, província sulista que foi anexada pela Rússia em março após aprovação prévia da população em referendo.

Tavriya e Sevastopol se enfrentarão na capital regional, Simferopol.

Na Crimeia, já foram realizados dois jogos da primeira divisão desde que a província deixou de pertencer à Ucrânia. "Agora precisamos de visto para entrar lá", contou Zago, do Shakhtar.


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