Folha de S. Paulo


Outrora foco insurgente, Homs está quase toda nas mãos de Assad

Uma placa de trânsito na entrada do bairro de Bab Amro, na periferia de Homs, sinaliza uma rotatória com três setas apontando uma à outra, em círculo. A chapa de metal está perfurada por tiros de metralhadora.

Diante do bloqueio militar que controla a passagem para essa volátil região da cidade, a placa serve como uma mensagem de que a violência, ali, é um recurso cíclico.

Diogo Bercito/Folhapress
Bairro de Bab Amro, na periferia da cidade de Homs, destruído após confrontos entre regime e oposição
Bairro de Bab Amro, na periferia da cidade de Homs, destruído após confrontos entre regime e oposição

Bab Amro é o cartão postal da destruição causada pelos três anos de conflito na Síria. A reportagem dirige por suas ruas, acompanhada de um soldado, visitando as construções demolidas pela artilharia do regime, em confronto com os insurgentes.

De acordo com o governo, dos 70 mil moradores do bairro, hoje restam 15 mil, espalhados pelo que restou de suas casas. Um militar aponta para uma praça empoeirada e se lembra de que "antes, havia aqui restaurantes e lojas e agora não há nada".

A destruição é resultado dos bombardeios do regime, mas o soldado afirma que a repressão foi necessária. "Eles nos provocaram para dizer que nós matamos civis."

Homs, que um dia foi palco das principais batalhas entre insurgência e regime, está hoje quase toda sob o controle do governo. Resta aos rebeldes a cidade antiga, cercada pelo Exército.

"Supomos que vamos encerrar essa crise em um mês, pacífica ou militarmente", diz à Folha Talal al-Barazi, governador da província de Homs. "Oferecemos uma solução pacífica, a anistia.

Se der certo, ampliaremos. Mas a opção militar está pronta."

Mais de mil rebeldes depuseram as armas em fevereiro, em um acordo mediado pela ONU. O governo estima haver, hoje, 500 insurgentes na região central.

A batalha em Homs vinha sendo travada desde o início da insurgência, em março de 2011. Mas, aos poucos, sucessivas vitórias militares do regime estrangularam a cidade, que chegou a ser chamada de "capital da revolução".

A balança foi especialmente influenciada a favor de Bashar al-Assad a partir da tomada da cidade de Qusayr, na fronteira com o Líbano. Rebeldes recebiam suprimentos vindos daquele ponto, e o corte da linha de apoio os obrigou a se retirar.

O governador Barazi admite que a batalha foi ganha a partir do auxílio da milícia xiita libanesa Hizbullah, que enviou guerreiros a Qusayr. "É uma colaboração antiga, não é segredo", diz. "É uma aliança contra o terrorismo."

"Terrorismo" é o termo que o regime usa para se referir às manifestações contrárias ao seu poder. A comunidade internacional discorda e condena a repressão estatal, mas Barazi nega excesso no uso da violência pelo Estado.


Endereço da página: