Folha de S. Paulo


Novo nome acirra disputa presidencial na Colômbia

Um ano atrás, o conservador Juan Manuel Santos era franco favorito para conquistar o segundo mandato nas próximas eleições colombianas, cujo primeiro turno acontece em 25 de maio.

O ex-ministro da Defesa de Álvaro Uribe dera início a sua gestão com alta popularidade (por volta dos 70%). Apesar de ver esse índice cair, manteve-se na preferência dos colombianos, apoiado nos bons números econômicos e na iniciativa de terminar com a guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) pela via pacífica da negociação.

A lua de mel com a ideia da reeleição, porém, começou a nublar-se nas últimas semanas. Primeiro, foi o ressurgimento político do próprio Álvaro Uribe, eleito senador.

Agora, Santos vê o crescimento da intenção de voto no urbanista Enrique Peñalosa, popular ex-prefeito de Bogotá (1998-2001), que confirmou oficialmente a sua candidatura pela Aliança Verde.

Mauricio Dueñas Castañeda/Efe
Ex-prefeito Peñalosa vai de bicicleta se inscrever para pleito
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"Seu surgimento embola tudo, principalmente porque se dá num momento de debilidade de Santos. As negociações pela paz estão mais lentas do que o esperado, e ele ainda não se recuperou da reaparição de Uribe", disse Antonio Navarro Wolff, ex-senador e ex-guerrilheiro do M-19, hoje porta-voz do Movimento Progressista.

Pesquisas recentes divulgadas pelos institutos Gallup, Ipsos, Centro Nacional de Consultoria e Cifras y Conceptos dão o presidente Santos à frente, com 23% a 25% dos votos. Em segundo lugar, alternam-se Peñalosa e Óscar Iván Zuluaga, o candidato de Uribe, com cerca de 15%.

"O que mais se destaca é a baixa votação de todos os candidatos. Há ainda muitos indecisos. E Santos tem de enfrentar a rejeição à sua candidatura, que vem crescendo", afirma o analista político Dario Acevedo.

A Cifras y Conceptos aponta rejeição de 70% a Santos. Além disso, 32% dos entrevistados não acreditam que as negociações com as Farc terminarão bem. Há muita resistência à proposta de Santos de que ex-guerrilheiros possam ser eleitos ao Congresso.

"Como é possível que, com todas as armas para ganhar, Santos esteja perdendo a eleição?", pergunta o analista político Richard Tamayo.

Segundo ele, há um problema de comunicação, porque o governo não consegue mostrar suas conquistas. O desemprego caiu para 10%, a inflação mantém-se em 2,3% e a Colômbia desbancou a Argentina como terceira economia da América Latina (atrás apenas de Brasil e México).

Para combater o problema, a coordenação da campanha de Santos divulgou um manual orientando militantes a fazerem propaganda usando linguagem futebolística: "Em tempos de Copa, com o futebol na cabeça de todos, a mensagem é que o resultado se define no segundo tempo; no primeiro, trata-se de construir as bases para ganhar".

DESCONFIANÇA

Em entrevista à rádio colombiana Caracol na semana passada, Santos reforçou a necessidade da reeleição para destruir a guerrilha. "Mudar de capitão neste momento seria fatal. Creio que nenhum dos candidatos que estão aí tem a mais mínima experiência num processo de paz."

Nos últimos meses, houve atentados contra policiais e militares, bem como atos terroristas em alguns Estados, o que diminui a confiança de que Santos seja capaz de encerrar um conflito que já dura 50 anos. "O crescimento do candidato de Uribe se dá em razão disso. Ele diz que é um absurdo continuar negociando enquanto a guerrilha comete atentados", diz Wolff.

Já o ex-prefeito Peñalosa adota o discurso de que as negociações devem continuar, mas a popularidade das medidas urbanísticas e sociais que promoveu na sua gestão em Bogotá garantem bom apoio e alianças à esquerda.

"A tendência é que vozes progressistas se aliem a seu discurso. Elas andavam muito diluídas nos últimos anos num cenário em que Santos e Uribe, conservadores, predominavam", diz Acevedo.


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