Folha de S. Paulo


Novo governo do Irã luta por retomada econômica

TEERÃ - Com uma economia gravemente afetada por anos de má administração e pelos efeitos das sanções internacionais, a classe média cada vez mais empobrecida do Irã votou em massa no verão passado em Hasan Rowhani como presidente. Em sua campanha, ele prometeu recuperar o crescimento econômico resgatando os laços com o resto do mundo.

Mais de seis meses após Rowhani tomar posse, porém, iranianos comuns, empresários e investidores estão perdendo as esperanças quanto a uma rápida recuperação econômica, ao passo que economistas dizem que o governo está ficando sem dinheiro.

Embora Rowhani tenha estabilizado a moeda nacional, controlado a inflação e feito um acordo nuclear temporário que dá algum alívio em relação às sanções, tem sido bem mais difícil cumprir suas promessas de crescimento econômico. Ao tomar posse, ele descobriu que as finanças do governo estavam em uma situação pior do que seu antecessor, Mahmoud Ahmadinejad, deixara entrever. Agora, com a falta de petrodólares e a arrecadação de tributos federais em declínio, só resta a Rowhani tomar medidas duras que aumentarão o sofrimento de seus eleitores.

Abedin Taherkenareh/European Pressphoto Agency
Trabalhadores em usina elétrica da província de Mazandaran, no Irã
Trabalhadores em usina elétrica da província de Mazandaran, no Irã

Com o início do Ano Novo iraniano em 21 de março, o governo deve começar a reduzir os subsídios para energia.

Os preços da gasolina, eletricidade e outros serviços públicos poderão ter alta de cerca de 90%, calculam economistas.

O governo também está cortando pagamentos mensais de US$ 12 para quase 60 milhões de iranianos, e apenas os mais pobres poderão continuar recebendo o benefício.

A gestão Rowhani só pode prometer uma redução da inflação para 25% no próximo ano, depois de atingir 42% no ano passado e estar atualmente em 32%.

O mercado de ações do Irã está em queda e teve uma perda de 14% desde seu pico em dezembro. Após meses de estabilidade, a moeda nacional, o rial, teve uma desvalorização de cerca de 4% em relação ao dólar no mês passado, e agora mais de 30 mil riais equivalem a US$ 1 no mercado paralelo.

Pela primeira vez desde as eleições, o governo teve de vender dólares no mercado aberto em março para proteger o rial, dizem fontes do setor. O porta-voz do governo afirma que a desvalorização da moeda se deve a uma alta sazonal na demanda por moeda estrangeira ligada à época do Ano Novo.

Outros dizem que os mercados estão perdendo a fé na capacidade do governo de aquecer a economia. "Mais uma vez estamos vendo investidores tirarem seu dinheiro de ações e especularem com ouro e moeda estrangeira", declarou recentemente o especialista no mercado de ações Hamid Mirmouni ao site Fararu. "O governo continua desperdiçando tempo e dinheiro, e os investidores estão perdendo a esperança."

Aumentando a turbulência, os cortes nos subsídios são uma medida que a maioria dos economistas considera inevitável e necessária. Em 2010, quando houve um corte nos subsídios aos combustíveis, os preços da gasolina quase quadruplicaram em Teerã.

"Estamos enfrentando uma primavera negra no Irã", comentou Saeed Laylaz, economista que dá assessoria a Rowhani. Ele disse temer que o governo recorra à emissão de moeda para mascarar o deficit orçamentário, o que pode aumentar a inflação. "Estou preocupado com possíveis tumultos."

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, pressionou o governo a dar mais atenção aos pobres, em um discurso recente para dezenas de líderes do país.

Enquanto Rowhani conta com uma melhora nas relações internacionais, o aiatolá Khamenei traçou um plano econômico paralelo. Na chamada "economia de resistência", o país lutaria para atingir quase a autossuficiência em "artigos básicos e estratégicos", segundo ele tem apregoado.

"A economia de resistência visa um Estado do bem-estar social e melhorar as condições de vida de todas as pessoas, sobretudo os pobres", declarou ele.

Um analista, que pediu para manter o anonimato, disse que, nas últimas décadas, diversos governos tentaram estabilizar a economia, porém todos acharam isso difícil politicamente, quando não impossível. "Temos muitos problemas sistêmicos", diagnosticou.


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