Folha de S. Paulo


Com todos os votos apurados, 96,7% optam por unir Crimeia à Rússia

O referendo da Crimeia teve 96,7% dos votos a favor da anexação da península à Rússia, informou o governo local na manhã desta segunda-feira.

Segundo Mikhail Malyshev, chefe da comissão eleitoral, 100% dos votos já foram apurados. "O nosso trabalho foi feito", afirmou, em entrevista.

Uma delegação do governo da Crimeia vai nesta segunda a Moscou dar início ao processo de anexação, que não é reconhecido pelo governo ucraniano nem por potências como EUA e membros do bloco europeu. O Parlamento da península deve ainda homologar o resultado e oficializar o pedido de união ao território russo.

Na noite de ontem, o governo americano reafirmou que não aceitará o resultado: "Como os EUA e os nossos aliados já deixaram claro, a intervenção militar e a violação da lei internacional vão trazer custos cada vez maiores para a Rússia". "O referendo é ilegal e ilegítimo, e seu resultado não será reconhecido", disse a União Europeia em nota.

Por telefone, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse ao presidente Barack Obama que o referendo respeita o direito internacional. Defendeu que é preciso buscar uma solução, mas responsabilizou as autoridades de Kiev pela suposta violência contra russos em cidades do país.

Os próximos passos devem dar o tom da tensão daqui para frente com a Ucrânia. Espera-se que o Parlamento da Crimeia tome hoje as primeiras medidas para pôr em prática a estatização de empresas ucranianas. A moeda russa deve ser oficializada como a principal no lugar da ucraniana. As tropas ucranianas baseadas na Crimeia podem receber um prazo para deixar a região, provavelmente até sexta, seguindo acordo de trégua que começou a ser negociado ontem pelos governos de Kiev e da Rússia.

O governo da Crimeia informou nesta manhã que a adesão ao referendo foi de 83,1% da população (ontem, o percentual era de 82%), mesmo com a promessa de boicote por parte dos tártaros (12% da população), e dos ucranianos (em torno de 25%). Ao todo, a península tem dois milhões de habitantes. Só 2,5% votaram pela manutenção como território ucraniano.

Na noite de ontem, uma multidão tomou conta da praça Lênin, principal ponto de encontro de Simferopol, capital da Crimeia, para celebrar o resultado do referendo. De maioria russa, a Crimeia foi cedida à Ucrânia em 1954 pela então União Soviética. Após a recente queda do então presidente da Ucrânia, Viktor Yanucovih, aliado do presidente russo, Vladimir Putin, o grupo político pró-Rússia tomou o poder na Crimeia e aprovou a anexação a Moscou, convocando o referendo para ratificar a decisão.

O referendo ocorreu com normalidade, apesar da tensão política e militar entre a Rússia e a Ucrânia. A Folha visitou seções de votação na periferia e no centro da cidade para acompanhar o referendo, convocado às pressas pelo governo local. O clima de calmaria se misturou a um modelo amador, sem muita fiscalização -não há, por exemplo, controle de quem entra e sai das salas de votação e a urna onde os cidadãos colocam as cédulas é completamente transparente.

Sem ser incomodada, a reportagem entrou numa sala montada numa escola no centro da cidade e registrou imagens de dentro das urnas em que era possível ver os votos depositados - a maioria pró-Rússia -e, em alguns casos, até quem os depositou. Numa seção montada num hospital no distrito de Gres, na periferia da cidade, a fila de votantes se misturava ao mesmo espaço das cabines e das urnas, um completo caos.

Editoria de Arte/Folhapress
ISTO É CRIMEIAMais rica do que o resto da Ucrânia, região é repleta de bases militares

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