Folha de S. Paulo


El Salvador confirma vitória de ex-guerrilheiro em eleições presidenciais

O ex-guerrilheiro e candidato de esquerda Salvador Sánchez Cerén venceu a eleição presidencial de El Salvador, segundo a apuração final do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), após quatro dias da votação, realizada no domingo (9).

Sánchez Cerén, da governante Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN), recebeu 50,11% dos votos (1.495.815) e Norman Quijano, da Aliança Republicana Nacionalista (Arena), 49,89% (1.489.451), segundo a recontagem das atas eleitorais, anunciou o presidente do TSE, Eugenio Chicas.

No domingo, a apuração preliminar mostrava o mesmo resultado, mas Quijano, ex-prefeito de San Salvador, protestou e exigiu a contagem "voto a voto". O candidato de direita também pediu a anulação do processo por considerar que aconteceu "fraude".

"O povo unido jamais será vencido" e "Salvador, presidente", gritavam os militantes da FMLN diante do hotel da capital do país no qual o TSE instalou o centro de operações.

O futuro presidente assumirá o cargo em 1º de junho em um país abalado pela violência, pela pobreza –que afeta 40,7% dos 6,2 milhões de habitantes– e que cresceu apenas 1,9% em 2013.

Após o anúncio do TSE, os partidos políticos tem três dias para apresentar recursos. A proclamação oficial do vencedor deve acontecer na próxima semana.

ESQUERDA

Cerén, de 69 anos e atual vice-presidente do primeiro governo de esquerda de El Salvador, presidido desde 2009 por Mauricio Funes, venceu o primeiro turno em 2 de fevereiro com 48,9% dos votos, contra 38,9% de Quijano.

Ele será o primeiro ex-guerrilheiro a assumir a presidência de El Salvador e o quarto na América Latina, depois do nicaraguense Daniel Ortega, do uruguaio José Mujica e da brasileira Dilma Rousseff.

A FMNL chegou ao poder em 2009 com uma campanha comandada pelo marqueteiro de Dilma, João Santana. Funes, o presidente eleito, tem forte vínculo com o PT e sua mulher, a brasileira Vanda Pignato, é petista.

A eleição do país foi a quinta depois da guerra civil (1980-1992) que deixou mais de 70 mil mortos. Os primeiros três pleitos foram vencidos pela direita.

OPOSIÇÃO

A opositora Arena classificou nesta quinta-feira de "ilegítimo" a vitória do ex-guerrilheiro esquerdista.

"Há um vencedor ilegítimo de um processo viciado com um ente reitor deste processo (o tribunal eleitoral) que foi o encarregado de embaçá-lo desde o início e que não goza de qualquer credibilidade", declarou o vice-presidente da Arena, Ernesto Muyshondt.

Na terça, o candidato Norman Quijano já havia pedido a anulação das eleições, diante da negativa do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) de proceder com a recontagem dos votos.

O presidente do TSE, Eugenio Chicas, esclareceu que a possibilidade de recontagem "voto a voto", como exigia a Arena, não está prevista na lei eleitoral, mas destacou que há uma revisão das atas eleitorais.


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