Folha de S. Paulo


Comissão da Unasul vai atuar na Venezuela para buscar acordo, diz Dilma

A presidente Dilma Rousseff disse nesta terça que a Unasul, organização que reúne 12 países da América do Sul, vai criar uma comissão para atuar na crise na Venezuela.

No Chile para a posse de Michelle Bachelet, ela deu uma rápida entrevista no hotel Sheraton Miramar, em Viña del Mar, onde está hospedada desde anteontem.

Questionada sobre o cancelamento da viagem do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro –ele era dos mais aguardados–, Dilma disse: "Olha, já estava previsto isso, os presidentes [de países da América do Sul] não vão se reunir [na Unasul]. Mas os presidentes 'mandataram' seus ministros das Relações Exteriores para amanhã [hoje] fazerem uma reunião".

A presidente disse que os chanceleres se reunirão "para criar uma comissão, que pode ser inclusive de representantes de todos os países da região, e fazer a interlocução pela construção de um ambiente de acordo, de consenso e de estabilidade lá na Venezuela".

A Venezuela tem enfrentado uma onda de protestos pró e contra o governo desde o início de fevereiro. Ao menos 22 pessoas já morreram durante as manifestações.

A presidente brasileira minimizou o fato de Maduro cancelar, de última hora, a visita ao Chile.

"O fato de não vir um ou outro presidente não interromperá o processo [de discussão da crise da Venezuela na Unasul], porque serão os chanceleres, e não os presidentes [que irão se reunir]. Até por uma questão simples: é um momento de posse [o que dificultaria a reunião de chefes de Estado]."

A comissão, se for criada, deve atuar como fiadora de uma negociação entre o governo e a oposição, mas não como promotora. O governo brasileiro entende que uma tentativa de diálogo entre as partes já está em andamento no âmbito da comissão de paz criada por Maduro.

Dela participam empresários e integrantes do clero que são severos críticos do governo, além de alguns governadores de oposição. A Unasul seria testemunha e reforçaria a viabilidade dessa via política de entendimento.

A Venezuela não explicitou o motivo de Maduro não ter ido ao Chile, mas alguns fatos podem ter favorecido o cancelamento da viagem.

O Chile já pediu à Venezuela que dê informações sobre a morte da chilena Giselle Rubiar. Ela foi atingida por um tiro no domingo, quando desmontava uma barricada na cidade de Mérida.

E o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, disse que poderia conversar com Maduro no Chile sobre os acontecimentos na Venezuela se o presidente venezuelano estivesse disposto a isso.

Dilma afirmou que o Brasil trabalhará pela democracia na Venezuela. "Sempre procuraremos a manutenção da ordem democrática."

E citou o caso do Paraguai. "Vejam que, quando foi o caso do presidente Lugo [Fernando Lugo, que sofreu impeachment em 2012], houve um momento de estresse. Esse momento foi superado com a perfeita inclusão do Paraguai com o novo presidente eleito, o presidente [Horacio] Cartes, que será, pelo rodízio, o próximo presidente do Mercosul."


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