Folha de S. Paulo


Grupo armado toma as sedes do Parlamento e do governo da Crimeia

Um grupo armado tomou nesta quinta-feira as sedes do Parlamento e do governo da região autônoma da Crimeia, no sul da Ucrânia, informou a rede de televisão local ICTV.

"Fui informado que os edifícios foram tomados por homens armados uniformizados e sem distintivos. Por enquanto, não apresentaram reivindicações", declarou Refat Chubarov, deputado da Rada Suprema (Parlamento) da Ucrânia.

O legislador, dirigente da minoria tártara da Crimeia, fez um pedido aos moradores de Simferopol, a capital da república autônoma, para que não se aproximem dos edifícios, que foram cercados por forças policiais.

Segundo imagens, o grupo que tomou o controle do edifício do Parlamento hasteou uma bandeira da Rússia no local.

"Ainda é cedo para comentar o incidente", declarou o deputado Andrei Senchenko, do partido Batkivschina, uma das forças que lideraram os protestos contra o presidente deposto Viktor Yanukovich.

Simferopol foi ontem cenário de manifestações pró-Ucrânia e pró-Rússia, que ocorreram nos arredores da sede do Parlamento autônomo, onde aconteceram alguns incidentes e uma pessoa morreu de um ataque cardíaco.

A península da Crimeia, banhada pelo Mar Negro, conta com 2 milhões de habitantes, dos quais quase 60% são russos, 25% ucranianos e 12% tártaros.

RÚSSIA

Na terça (25), o deputado russo Leonid Slutsky visitou a região e disse que presidente russo Vladimir Putin protegeria os interesses da maioria russa. Ontem, o Kremlin anunciou um exercício militar em bases da região oeste e central russas, próximas à fronteira da Ucrânia.

O ministro da Defesa russo, Sergei Shoiguas, afirmou que Moscou "acompanha com cuidado" o que acontece com a Crimeia. Horas depois, a Chancelaria emitiu uma nota dizendo que "os extremistas ucranianos estão impondo sua vontade" e ameaçaram a Igreja Ortodoxa Russa.

Moscou também enviou um representante para vigiar o cumprimento dos direitos humanos no país vizinho. A interferência russa foi criticada pelos ex-mandatários ucranianos Leonid Kravchuk, Leonid Kuchma e Viktor Yushchenko.

Para eles, Moscou faz "uma intervenção direta" na Crimeia, o que poderia levar a um conflito étnico. O temor é que ocorra na Crimeia uma invasão similar à feita na Geórgia, em 2008, para proteger Províncias de maioria russa.

Caso isso aconteça, poderia acontecer um conflito maior, já que o governo interino recebeu o apoio da União Europeia e dos Estados Unidos, que já sinalizaram ser contra uma intervenção militar russa.

Os ministros da Defesa que integram a Otan, reunidos em Bruxelas, asseguraram o apoio à soberania e integridade territorial da Ucrânia nesta quarta.

GOVERNO INTERINO

O conselho de Maidan, que reúne os líderes políticos dos protestos ucranianos, da sociedade civil e os grupos radicais, anunciou ontem a designação do pró-europeu Arseni Iatseniuk como primeiro-ministro, em uma declaração em Kiev.

Esta designação, anunciada por um funcionário na emblemática praça da Independência, ante milhares de pessoas, deve ser confirmada pelo parlamento nesta quinta-feira.

Seu gabinete provisório conduzirá o país até as eleições presidenciais, em maio. Os ministros também deverão enfrentar a crise econômica, que deve ser agravada com a retirada da ajuda russa.

A moeda do país, a hrivna, teve queda de 4% nesta quarta e as reservas internacionais caíram de US$ 17,8 bilhões para US$ 15 bilhões desde o início do mês. Os ucranianos devem buscar a ajuda do FMI (Fundo Monetário Internacional), a quem recorreram em 2009.


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