Folha de S. Paulo


Região deve apoiar protestos na Venezuela, diz diplomata americano

Diante da crise na Venezuela, todos os países da região deveriam apoiar os "direitos políticos básicos" dos manifestantes, em nome da democracia. Quem afirma é o diplomata americano Patrick Duddy, ex-embaixador dos EUA em Caracas, expulso em 2008 por Hugo Chávez.

Nesta semana, a presidente Dilma Rousseff evitou se manifestar sobre "assuntos internos" do país vizinho, que enfrenta uma onda de protestos alimentada por problemas econômicos, como a inflação e a escassez de produtos, e sociais, como a violência.

O Brasil, porém, assinou o comunicado do Mercosul que classifica as manifestações como "ações criminosas".

"Somos todos signatários da Carta Democrática Interamericana [da OEA], e isso significa que deveríamos apoiar os direitos políticos básicos ""como de fazer assembleias pacíficas e de liberdade de expressão"", mais do que só durante as eleições", diz Duddy.

Para ele, a retórica do presidente Nicolás Maduro contra a oposição e algumas das medidas tomadas "claramente colocam em questão o compromisso do governo com as liberdades políticas".

O embaixador diz ainda que a expulsão de mais três diplomatas americanos, há uma semana, é uma das evidências de que a já desgastada relação entre a Venezuela e os EUA também se deteriorou no governo Maduro.

"A relação está pior agora. Eu fui expulso por Chávez em 2008 e voltei à Venezuela em 2009 para terminar o meu mandato. Desde então, a Venezuela não concedeu o agrément ao meu sucessor, e, no último ano, expulsou oito diplomatas americanos", diz.

Para Duddy, hoje professor na Duke University, da Carolina do Norte, o governo tenta "desviar a atenção culpando os EUA". "Uma das ironias é que os EUA ainda são o principal parceiro comercial da Venezuela", diz.

O diplomata diz haver diferenças entre as manifestações que ocorreram após a eleição de Maduro, em abril de 2013, e as de agora. Segundo ele, mesmo a base chavista –hoje ainda mais dependente dos programas sociais do que durante a era Chávez– não é mais um apoio tão seguro ao presidente.

"A capacidade do governo de manter esses programas está se esvaindo com os problemas da economia", afirma.


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