Folha de S. Paulo


Análise: Mílicias podem ser um risco ao governo pior que oposição

Em curto prazo, os protestos na Venezuela representam pouca ameaça para o governo de Nicolás Maduro, mas analistas acreditam que a confusão possa se agravar se não houver controle sobre as milícias armadas.

Qualquer cenário nesse sentido pode representar ameaça maior que a fragmentada oposição.

Os chamados "coletivos", cujo território mais importante é o bairro pobre 23 de Janeiro, em Caracas, foram formados durante os anos de Hugo Chávez para, originalmente, colocar em prática os programas de governo do líder esquerdista.

Serviam, ainda, como organizações de bairro para tocar projetos comunitários, mas também podiam agir como organizações de pressão que intimidam oponentes.

Os coletivos se definem como defensores da revolução e se comunicam por rádio do topo de edifícios em seus bairros sempre que um desconhecido ingressa em sua área. No 23 de Janeiro, até a polícia e a Guarda Nacional hesitam em ingressar.

No passado, os coletivos sempre demonstraram forte apoio a Chávez, comparecendo em massa aos seus comícios e agindo para dispersar eventos oposicionistas.

Durante os protestos desta semana, milhares de venezuelanos usaram o Twitter para reportar perturbações em todo o país, muitas das quais envolvendo confrontos entre os coletivos e os manifestantes.

"Vi a polícia se afastar para permitir que os coletivos controlem a cidade. É um método frequentemente usado por esse governo para intimidar oponentes. Eles operam quase em paralelo com a polícia, neutralizando manifestantes por intimidação ou pelo uso da força", escreveu @eurolobo, jornalista e blogueiro de Mérida, no Twitter.

Outras imagens e vídeos mostram homens armados de motocicleta, derrubando portões e atirando contra carros estacionados.

Essas informações circulam nas redes sociais e foram veiculadas por redes internacionais, como a CNN Español, mas não foram exibidas nas TVs venezuelanas, por conta do que muita gente vê como um blecaute noticioso autoimposto, por medo de represálias do governo.

O governo nega censura, mas alertou a mídia nacional e internacional de que punirá quem veicular conteúdo capaz de incitar à violência ou que possa ser interpretado como "apologia ao crime".


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