Folha de S. Paulo


No mundo, 78% dos fiéis apoiam métodos contraceptivos e 65% são a favor do aborto

De acordo com uma pesquisa encomendada pela rede norte-americana de língua espanhola "Univision", a maioria dos católicos discorda do que a igreja os ensina sobre a contracepção, o divórcio e o aborto. Realizada em 12 países, a análise também reforça uma discrepância entre o que pensam Vaticano e fiéis, antes de uma conferência extraordinária marcada que muitos esperam levar a uma reforma.

Mais de 12 mil católicos deram suas opiniões sobre a posição da igreja e o estudo constatou que, de todos os assuntos abordados, o ensinamento sobre contracepção foi o mais fora de sintonia com o pensamento dos católicos. Em todo o mundo, 78% apoiam o controle de natalidade com métodos artificiais.

Mais da metade (58%) dos entrevistados discordou da postura em relação a mulheres divorciadas que se casam novamente. Para a igreja, elas são inelegíveis para a Comunhão. E 65% disseram que o aborto deveria ser permitido —8% em todos os casos e 57%, em alguns.

O quadro apresentado pela pesquisa —publicada no domingo nos jornais Washington Post, El País e La Repubblica— era de profundas divisões geográficas entre os 1,2 bilhões de católicos.

Os entrevistados dos países africanos —Uganda e República Democrática do Congo— deram respostas que foram mais próximas dos ensinamentos da Igreja. O apoio a contracepção, ainda que significante, com mais de 40%, foi menor do que o registrado para países europeus e latino-americanos, onde a aprovação chegou a 90%.

Três quartos dos católicos africanos entrevistados disseram concordar com o tratamento da igreja em relação aos divorciados. Em Uganda, 64% eram contra o aborto, enquanto na França, 94% acreditavam que as mulheres poderiam interromper a gravidez em alguns casos ou em todos.

Houve uma divisão semelhante de opiniões no que diz respeito a polêmica questão da ordenação de mulheres. A maioria dos católicos europeus e norte-americanos é contra a proibição da ordenação de mulheres, já a maioria dos entrevistados de Uganda, da República Democrática do Congo, do México e das Filipinas é a favor.

Em relação ao casamento gay, católicos estavam mais alinhados com a doutrina da igreja. Dois terços (66%) se opuseram, embora os níveis de resistência tenham variado bastante, de 99% em Uganda, para 27% na Espanha, de longe o menor número registrado. Além disso, em todos os países, com exceção da Espanha, a maioria dos entrevistados disse que não acha que a igreja deveria realizar casamentos entre pessoas do mesmo sexo.

O Vaticano sabe que há um abismo entre o que é pregado e a prática comum. No ano passado, publicou a sua própria pesquisa para tentar avaliar, mundialmente, as atitudes dos fiéis. Na semana passada, bispos disseram, na Alemanha, que os resultados mostraram que a maioria dos católicos discorda da postura da igreja em relação ao controle de natalidade artificial, ao sexo antes do casamento, a homossexualidade e a comunhão para divorciados que se casam novamente.

O Papa Francisco chamou os bispos a Roma em outubro para um sínodo extraordinário, apenas o terceiro da história, para discutir como a igreja deveria responder "no contexto dos desafios que as famílias estão enfrentando hoje". Embora tenha expressado firme oposição a ordenação de mulheres, casamento gay e aborto, o pontífice argentino também disse que a igreja precisa ser menos obcecada com a doutrina e mais focada em conservar os seus membros e alcançar novos.


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