Folha de S. Paulo


Assassinato de ex-miss provoca indignação na Venezuela

"Despedida como uma rainha", "Rainha da beleza da Venezuela e seu marido britânico são mortos", "Filha de Mónica Spear ainda não sabe que seus pais foram assassinados".

Enquanto no Reino Unido, as mortes da miss Venezuela e de seu companheiro inglês se transformaram em títulos sensacionalistas nos tabloides, na Venezuela, a tragédia levou a população às ruas, indignada com a falta de segurança no país.

O assassinato da bela Mónica, 29, ocorreu no último dia 6, interrompendo a viagem de férias do casal. O que era para ser um passeio privado –Mónica estava se reconciliando com Thomas Berry– agora virou assunto nacional.

As contas de Twitter e de Instagram da miss tem sido acessadas por milhões, que aí podem conferir seus últimos vídeos, alguns com paisagens que ela visitou, outros dela mesma mandando beijos sensuais para a câmera tendo os "llanos" venezuelanos como cenário de fundo.

O casal estava em seu carro quando o mesmo foi cercado por uma gangue, no Estado de Carabobo. Acuados, eles se trancaram dentro do veículo, acompanhados da filha Maya Feliz, 5. Os bandidos atiraram mesmo assim, rompendo o vidro e matando a ambos.

A menina foi ferida nas pernas, mas sobreviveu. Momentos depois, na delegacia, ela diria: "papai e mamãe estão dormindo no carro".

Nos dias que se seguiram, enquanto os venezuelanos iam às ruas com cartazes protestar contra o massacre e o presidente, Nicolás Maduro, admitia em cadeia nacional que tinha responsabilidades no caso, a menina Maya se recuperava na casa dos avós.

Os jornais sensacionalistas ingleses acompanharam o luto da menina, e a cada dia publicavam sua reação e evolução, baseados em relatos de amigos da família.

Spear tem cidadania norte-americana e passou a adolescência na Florida, onde seus pais vivem até hoje. A mudança da família para os EUA aconteceu por conta do medo dos crescentes índices de violência de Caracas, a capital venezuelana.

Ainda assim, quando terminou seus estudos, Mónica quis voltar à Venezuela, à revelia dos pais, que permaneceram em solo americano. "Eu não queria que ela voltasse ainda, trata-se de um país muito violento, sem perspectivas de melhora nesse momento", disse, em declaração a meios locais.

Em seu país-natal, Mónica começou a trabalhar com crianças com deficiências e a participar de campanhas de saúde, alimentadas pelo Twitter e pelo Facebook, que ela usava em grande intensidade.

Em 2004, levou o título de miss Venezuela, num país em que esse posto é uma verdadeira instituição e tradição nacional. Na Venezuela, o concurso de miss está praticamente para os venezuelanos o que o futebol está para Brasil e Argentina.

De 2006 em diante, Mónica viraria atriz de televisão, atuando principalmente em telenovelas, algumas delas como protagonista. É o caso, por exemplo, de "Mi Prima Ciela" (minha prima Ciela), no qual interpretou uma jovem estudante vítima de leucemia. Outro papel de destaque foi o de protagonista de "La Mujer Perfecta", de 2010.

Depois disso, Spear passou um tempo em Miami, onde protagonizou, pela Telemundo, a novela "Flor Salvaje". A morte de celebridades da televisão sempre causa comoção em países cuja sua presença é tão dominante.

No caso da Venezuela, o drama é potencializado pelo fato de ser uma mulher jovem, bonita e benfeitora. E, principalmente, por ilustrar o vazio no que se refere a políticas e implantação de segurança do governo Nicolás Maduro.

No funeral de Mónica, que reuniu família, celebridades e amigos, o pai disse que espera que a tragédia de sua filha signifique um marco na tomada de consciência do governo com relação ao preço pago pela população civil pelo aumento da violência dos últimos tempos.


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