Folha de S. Paulo


Novo prefeito de NY obtém apoio de 'PT nova-iorquino'

O novo prefeito de Nova York, o democrata Bill de Blasio, que toma posse hoje, atraiu com sua plataforma de perfil progressista o apoio de grupos políticos à esquerda. Entre eles se destaca uma espécie de "PT nova-iorquino", o pequeno, mas ativo, Partido das Famílias Trabalhadoras (Working Families Party).

Fundado em 1989 por descontentes com posições dos democratas, o WFP defende causas trabalhistas e ambientais. Cresceu, elegeu representantes locais e se tornou o "terceiro partido" de NY.

"Estamos em sete Estados, dentro ou fora do Partido Democrata, mas sempre pressionando por uma linha mais progressista", diz Dan Cantor, 58, diretor-executivo da sigla e ex-militante sindical.

Na entrevista que se segue, ele fala sobre Blasio e o cenário político americano.

Folha - Qual o papel do WFP na campanha de Blasio?

Dan Cantor - Indireto, mas importante. Nosso trabalho ajudou a mudar a atmosfera política em NY e trouxe novas questões para o debate público. E participamos da formação de uma bancada progressista na Câmara, o que é uma grande ajuda para Blasio.

Ele merece crédito por ter sido corajoso o bastante para falar a verdade sobre desigualdade econômica e racial na cidade. Tem planos ambiciosos em habitação, educação infantil, empregos verdes e mais. Também tem adversários poderosos, mas a maioria dos nova-iorquinos quer que ele seja bem-sucedido.

O WFP é um partido socialista na maior potência capitalista?

É um partido social-democrata e, nesse sentido, talvez não muito diferente do PT. Queremos usar o poder do Estado para reduzir as desigualdades. Em muitos casos, o Partido Democrata atua sob a influência dos mesmos interesses financeiros que controlam os republicanos.

Nosso partido tenta oferecer uma alternativa sensata, que possa puxar os democratas –e mesmo alguns republicanos– para a esquerda.

Respeitamos o papel do mercado e a liberdade que a propriedade privada oferece. Mas nós queremos mercados bem regulados e prosperidade amplamente compartilhada, o que definitivamente não é o caso hoje nos EUA.

O sr. considera frustrante o governo de Barack Obama?

No primeiro mandato, ele tentou um consenso com rivais que representam o que há de mais destrutivo na nossa sociedade –grande erro. Mas não devemos nos iludir e acreditar que o presidente pode fazer o que ele quer.

No geral, não houve mobilização social suficiente para potencializar o momento Obama. Mas restam três anos.

E um afro-americano ter sido eleito e reeleito presidente é uma realização espetacular para nós. Nunca imaginei que os EUA fossem eleger um presidente negro antes do Brasil, mas nós fizemos isso, o que nos deixa muito orgulhosos.

Como vê o desempenho dos republicanos e do Tea Party?

Estão fortes agora, mesmo que suas ideias não sejam tão populares. Têm fontes inesgotáveis de dinheiro e o apoio do império de mídia de Rupert Murdoch. Os republicanos ainda controlam o debate político e econômico.

Com exceções, a política nos EUA é competição entre o centro e a direita. Queremos que evolua para uma disputa entre o centro e a esquerda, mas vai demorar um pouco.


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