Folha de S. Paulo


Premiê turco anuncia troca de dez ministros em meio a crise

O premiê da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, anunciou na noite desta quarta-feira (25) a troca de dez ministros em reação às demissões de Erdogan Bayraktarr, Zafer Çaglayan e Muammer Güler, respectivamente ministros do Ambiente, da Economia e do Interior.

O anúncio foi feito pouco após reunião com o presidente Abdullah Gül.

As demissões acontecem oito dias após a prisão preventiva de Kaan Çaglayan e de Baris Güler, filhos de dois dos ministros acusados de participar de uma rede de subornos. Os políticos negam as acusações.

Após demitir-se, Bayraktarr disse que, "em nome do bem-estar desta nação, acredito que o primeiro-ministro deva renunciar [a seu cargo]".

O premiê não respondeu de imediato, mas, em discurso público, afirmou que "não tolerará corrupção".

Em Ancara, a capital, Istambul e Izmir, manifestantes saíram às ruas para exigir a renúncia de Erdogan.

Para Zafer Çaglayan, "ficou claro que a operação é uma suja maquinação contra o governo, o partido e o país. Renuncio para que a verdade possa vir à tona e destruir este jogo indecente no qual envolveram amigos próximos e meu filho", disse.

O ministro do Interior deu declarações parecidas e classificou a investigação como um "jogo sujo".

Ao menos 24 pessoas, entre elas o diretor do banco estatal Halkbank, foram presas preventivamente, enquanto outras, entre os quais um prefeito do partido governista AK e um milionário empresário do setor da construção civil, foram libertadas.

Os acusados são suspeitos de terem fraudado a licitação de contratos urbanos.

Além disso, são acusados de negócios ilícitos relacionados com o envio de ouro para o Irã, esquema que evitava as sanções internacionais contra o país persa.

OPOSIÇÃO

Entre os dez novos ministros nomeados por Erdogan na noite de quarta-feira está Efkan Ala, ex-governador da turbulenta província de Diyarbakir, que assumirá a poderosa pasta do Interior, responsável pela política de segurança interna.

"Ele (Erdogan) está tentando formar um gabinete que não demonstrará nenhuma oposição a ele. Nesse contexto, Efkan Ala terá um papel chave", disse Kemal Kilicdaroglu, diretor do partido CHP, o maior da oposição, em declarações difundidas pela imprensa turca.

"Erdogan tem um Estado profundo, (seu) Partido AK tem um Estado profundo, e Efkan Ala é um dos elementos desse Estado profundo", acrescentou Kilicdaroglu, usando um termo que, para os turcos, alude a uma estrutura de poder paralelo, que não é afetada pelos mecanismos democráticos de pesos e contrapesos.

Em seus três mandatos como premiê, Erdogan, um político de tendências islâmicas, transformou a Turquia, reduzindo o papel das Forças Armadas laicas e comandando uma rápida expansão econômica. Em 2013, ele resistiu a uma inédita onda de protestos nas grandes cidades.

Mas o escândalo de corrupção levou a União Europeia a sair em defesa da independência do Judiciário turco, além de abalar a Bolsa local e a cotação da moeda, que caiu na segunda-feira ao seu menor nível histórico, sendo negociada a 2,1025 liras por dólar.


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