Folha de S. Paulo


EUA reforçam presença militar na Espanha

A possibilidade de uma invasão à Síria, o aumento da ameaça terrorista no norte da África, os testes de mísseis americanos e israelenses, os conflitos diplomáticos em Gibraltar, o crescimento da imigração irregular no sul da Espanha.

Boa parte dos episódios envolvendo a segurança no Mediterrâneo neste ano passou por uma área de pouco menos de seis campos de futebol no sul da Espanha.

Nela, as Forças Armadas espanholas e dos Estados Unidos compartilham a base militar de Rota, que se tornou um dos pontos mais estratégicos para as operações militares americanas e europeias, ao qual a Folha teve acesso.

Construída na época da ditadura de Francisco Franco (1892-1975), a base já é utilizada por forças dos Estados Unidos há 60 anos.

Desde o ano passado, porém, o governo Obama decidiu aumentar sua presença em Rota, ponto de entrada e saída do Mediterrâneo, além de ser a metade do caminho entre EUA e Afeganistão.

É ainda a única base na Europa com aeroporto, portos, reserva de combustível e apoio logístico, que funciona o ano inteiro por causa do bom tempo na região.

Até o começo de 2014, os EUA vão mandar para lá quatro navios para operações nas proximidades da Síria. E reforçará seu contingente atual, de 3.000 para 4.200 soldados.

Situada na cidade de Rota, um povoado ao lado de Cádiz, a base naval foi construída para servir apenas de apoio a operações na zona. Diante do aumento de atividades terroristas no norte da África e do conflito na Síria, ela se tornou ponto estratégico para as forças de segurança europeias e americanas.

Por isso, a Otan, a aliança militar ocidental, está financiando obras de ampliação da base, que custarão cerca de € 220 milhões (R$ 682 milhões) aos países-membros.

'AMERICAN WAY'

Embora compartilhada com a Espanha, a base de Rota, que a Folha visitou na companhia de militares espanhóis, se assimila a uma pequena cidade americana.

Há duas redes de fast-food, salas de cinema, drive-in, campo de golfe, piscinas, praias particulares e uma igreja. Na parte comum, um aeroporto. Embora com boa relação, soldados americanos e espanhóis vivem em zonas diferentes.

A Espanha mantém em Rota 10 mil homens da Marinha, quase um terço de seu efetivo de todo o país, de 24 mil pessoas. Isso porque, embora seja também apenas base de apoio para o país ibérico, Rota é ponto estratégico.

Hoje, além de barrar a entrada de grupos terroristas do norte da África para a Europa, as forças espanholas no local também conduzem a principal missão militar do país: o combate aos navios piratas da região.

"Na década de 1950, o foco da base era o comunismo. Os EUA viram em Rota um bastião do anticomunismo, não só pela posição, mas porque vivíamos a ditadura", disse o capitão José Maria Caravaca, coordenador do projeto de ampliação da base.

Hoje, o inimigo é outro também para os Estados Unidos, mas a base continua servindo a seu combate. A partir de janeiro, os EUA farão operações com antimísseis na costa de Malta e de Chipre.

Além disso, terão 500 militares em Rota à disposição para missões de urgência no norte da África.

Embora Rota continue servindo apenas como base de apoio, o aumento das atividades vem gerando reações negativas de moradores locais.

"O grande problema é que isso não vai gerar mais empregos para os moradores daqui, porque virão todos dos Estados Unidos", disse o comerciante José Alvaréz, 51.

Em outubro, ele participou de protesto com cerca de 500 mil pessoas contra os antimísseis americanos em Rota.

As forças espanholas alegam que, embora compartilhada, a base de Rota continua sendo de supremacia da Espanha, e os Estados Unidos têm de pedir autorização para todas as operações.

Além disso, afirmam que a base gera emprego aos moradores e tem uma população de 17 mil pessoas, das quais só 3.000 são americanas.

Jorge Zapata - 22.nov.2007/Efe
Caça Harrier da Força Aérea da Espanha decola da base de Rota, no golfo de Cádiz, em 2007
Caça Harrier da Força Aérea da Espanha decola da base de Rota, no golfo de Cádiz, em 2007

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