Folha de S. Paulo


Putin diz querer anistiar ex-magnata opositor preso há dez anos

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou nesta quinta-feira que pretende anistiar em breve o ex-magnata do petróleo Mikhail Khodorkovsky, preso há dez anos após ser condenado por lavagem de dinheiro, evasão fiscal e fraude.

Até então o homem mais rico da Rússia, ele foi acusado de lavar US$ 23,5 milhões (R$ 54 milhões) e roubar petróleo de poços estatais. A condenação é vista por grupos de oposição e de direitos humanos como uma vingança do presidente, que o acusa de tentar retirá-lo do poder na época.

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Em entrevista, Putin afirmou que a defesa do ex-magnata lhe enviou um apelo e que ele pretende aceitá-lo. "Ele já passou mais de dez anos na prisão, já é um castigo sério. Ele se baseia em questões de caráter humanitário, já que sua mãe está doente".

Alexander Nemenov - 27.dez.10/AFP
Ex-magnata Mikhail Khodorkovsky, em 2010; opositor a Putin teve pena reduzida em dois meses e deixará prisão em 2014
Ex-magnata Mikhail Khodorkovsky, em 2010; opositor a Putin teve pena reduzida em dois meses e deixará prisão em 2014

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que o pedido foi assinado pelo próprio Khodorkovsky. A defesa do opositor nega e diz não ter informações sobre nenhum pedido de anistia.

"Nós não temos essa informação, apesar de que houve diferentes pedidos de perdão feitos nos últimos anos por diferentes indivíduos", disse o advogado de defesa Vadim Klyuvgant à agência de notícias Ria-Novosti.

A mãe do ex-magnata, Marina, também disse desconhecer sobre o pedido de clemência. "Eu conversei com ele no último sábado, mas não discutimos sobre isso. Ele só falou comigo sobre minha saúde", afirmou.

O indulto é anunciado oito meses antes do fim da pena do ex-magnata do petróleo, que em agosto foi reduzida. Na época, a defesa havia afirmado que recorreria da decisão, por considerar que a prisão foi política.

Devido ao processo, a empresa petroleira de Khodorkovsky, que era avaliada em US$ 40 bilhões (R$ 112 bilhões), faliu. Investidores estrangeiros veem a prisão do magnata como o primeiro indício da crescente intervenção na economia da primeira presidência de Putin, encerrada em 2008.

GREENPEACE

Mais cedo, o mandatário russo afirmou que tomará medidas firmes para evitar que grupos ambientalistas interfiram na exploração de petróleo e outras atividades econômicas no Ártico.

Ele acusou outros países de instruírem os 30 ativistas do Greenpeace que invadiram uma plataforma em setembro, mas não mencionou que nações teriam interesse em prejudicar a extração de petróleo.

Embora tenha criticado a ação, Putin deu sinais de que os ativistas poderão ser liberados junto com a anistia aprovada na quarta (18) pelo Parlamento. "A anistia não foi feita para os ativistas do Greenpeace, mas, se eles se beneficiarem dela, tudo bem".

Os ambientalistas, incluindo a brasileira Ana Paula Maciel, foram soltos em novembro após dois meses de prisão preventiva. Inicialmente indiciados pelo crime de pirataria, eles respondem também por vandalismo.

Os condenados por vandalismo são um dos beneficiados pela anistia e o Greenpeace acredita que seus ativistas deverão ser liberados. No entanto, não há informações se foram retiradas as acusações por pirataria, o que poderia impedi-los de deixar a Rússia.

A prisão dos "30 do Ártico", como o Greenpeace chama o grupo de ativistas, motivou críticas do Ocidente e foi amplamente vista como um sinal de que Putin não irá tolerar qualquer tentativa de impedir a Rússia de explorar os recursos do Ártico.


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