Folha de S. Paulo


Putin nega que Rússia queira afastar Ucrânia da UE após acordo

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse nesta quarta-feira que a ajuda financeira à Ucrânia não tem como objetivo afastar o país vizinho da União Europeia. Para ele, a redução do preço do gás e a compra de títulos da dívida pública ucraniana são uma ajuda para "um país e um povo irmão".

A queda de cerca de 30% no preço do gás fornecido pela russa Gazprom e a aquisição de US$ 15 bilhões (R$ 34,5 bilhões) em títulos da dívida pública foram acertadas após reunião entre Putin e o presidente ucraniano, Viktor Yanukovich.

O presidente ucraniano negou nesta quinta-feira que o acordo econômico com a Rússia impedirá uma aproximação com a União Europeia, mas declarou que a Ucrânia pode integrar parcialmente a união alfandegária liderada por Moscou, além de denunciar a ingerência dos ocidentais que apoiam a oposição pró-UE.

A Ucrânia pode aderir a certas cláusulas da união aduaneira integrada por Rússia, Belarus e Cazaquistão. "O governo ucraniano recebeu hoje (quinta-feira) os documentos e os está examinando. Depois (...) decidiremos a quais cláusulas aderiremos e a quais não aderiremos e sob que condições", declarou.

O acordo entre Rússia e Ucrânia acontece após três semanas de protestos de opositores a Yanukovich, que rejeitou a adesão à União Europeia e provocou a irritação de seus rivais. Após o acordo com a Rússia, os manifestantes acusaram o mandatário de vender a Ucrânia para Moscou.

Em entrevista coletiva, o presidente russo descartou qualquer relação entre o acordo com os ucranianos e as negociações para a entrada da União Europeia, assim como negou que tenha sido uma resposta aos protestos no centro da capital Kiev.

"Afirmamos com frequência que é um povo irmão, um país irmão, então devemos atuar como parentes próximos e apoiar o povo ucraniano que se encontra em uma situação difícil", disse Putin, que também rejeitou as acusações de que Moscou esteja "asfixiando" a economia ucraniana.

"Não temos nada contra este acordo, apenas afirmamos que temos que defender nossa economia", declarou Putin, em relação à adesão ucraniana à União Europeia.

Putin reiterou que a decisão de reduzir o preço do gás é temporária, mas que espera chegar a um "acordo de cooperação de longo prazo" no setor de energia. Analistas dizem que o resgate é uma aposta feita num momento de fragilidade para a economia russa, e que a decisão foi tomada por questões geopolíticas.

ACORDO

Segundo o acordo firmado, a Rússia comprará US$ 15 bilhões (R$ 34,5 bilhões) em títulos da dívida pública ucraniana e reduzirá em cerca de 30% o preço do gás vendido a Kiev.

Mesmo com o pacto com Moscou, Yanukovich não descartou a associação com os europeus, embora tenha pedido € 20 bilhões (R$ 66 bilhões) a Bruxelas para poder entrar no bloco.

O acordo russo foi encarado pela oposição e por analistas como um dos passos para manter a influência de Moscou sobre Kiev. O Kremlin também deseja incluir o país na União Euroasiática, bloco econômico formado por ex-repúblicas soviéticas e que já conta com a participação de Armênia, Belarus e Cazaquistão.

A intenção, de acordo com os analistas, é diminuir o influência da União Europeia em relação aos países do leste europeu.


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