Folha de S. Paulo


Candidatas no Chile apelam por ida às urnas

Um pedido em comum une as candidaturas de Michelle Bachelet (centro-esquerda) e Evelyn Matthei (direita), que se enfrentam hoje no segundo turno da eleição presidencial no Chile. "Votem, por favor. Não importa em quem", repetem as campanhas.

O receio das duas é que a abstenção seja ainda maior no segundo turno do que no primeiro, em 17 de novembro. Na ocasião, de 13,6 milhões de eleitores, 6,7 milhões votaram --abstenção de 48%.

O total de votantes não difere muito do verificado em 2009 (6,9 milhões). A diferença é que agora, pela primeira vez, o voto para presidente no país não é obrigatório.

Uma das possíveis explicações é a ampla vantagem de Bachelet. A única pesquisa feita no segundo turno aponta vitória da ex-presidente por 66,3%, ante 33,7% da rival. "As pessoas já têm claro quem vai ganhar. Isso gera um desinteresse grande, dá a sensação de que um voto não muda nada", diz Miguel Pinto, do instituto Ipsos.

Essa interpretação de que a eleição já está ganha preocupa a campanha da socialista. "O apelo que fazemos aos eleitores é para que não caiam na lógica do triunfalismo", diz à Folha o porta-voz de Bachelet, Álvaro Elizalde.

Para Claudio Reyes, da Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais), todas as conclusões sobre o voto não obrigatório no Chile ainda são prematuras.

Segundo ele, mesmo que Matthei tenha convocado os chilenos às urnas, o provável baixo quorum interessa a parte da direita. "Se poucos votarem, a direita poderá alegar que a eleição de Bachelet não foi legitimada. Mas isso é um absurdo. Pela lei, é preciso ter 50% dos votos válidos mais um, não importa o total."

A líder estudantil Melissa Sepúlveda, que não votou no primeiro turno, diz que não votará hoje: "As garantias que os candidatos me deram não foram suficientes".

'ESTRATÉGIA DO MEDO'

Na tentativa de reduzir a diferença, Matthei intensificou nos últimos dias os ataques a Bachelet, dizendo que um provável segundo mandato da socialista fará o Chile se parecer com a Venezuela.

Uma das três principais reformas propostas por Bachelet é a constitucional --as outras são a educacional e a tributária. Em 1999, a Assembleia Constituinte da Venezuela extinguiu o Senado e deu mais poder ao Executivo.

"Quando vejo alguns dizendo que o Chile tem que caminhar mais para o lado da Venezuela, onde não se tem o que comer, [pergunto:] isso é o que querem para o Chile?", disse Matthei na quinta.

Para o analista Cristóbal Huneeus, a direita "joga com a estratégia do medo". "Como Bachelet também quer uma reforma em que os ricos pagarão mais impostos, e com o voto voluntário a classe alta é a que mais vai às urnas, Matthei usa essa tática."


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