Folha de S. Paulo


Partido de extrema-direita pode se tornar ilegal na Alemanha

O ultradireitista Partido Nacional Democrático (NPD), principal partido desse espectro político, enfrenta desde esta terça-feira um processo de ilegalização, amparado pelas semelhanças ideológicas com o nazismo.

"Com apenas seis mil militantes, fundos públicos bloqueados por causa de irregularidades contábeis e com resultados eleitorais mínimos, 1,3% nas eleições gerais de setembro, o NPD é um partido nazista de Adolf Hitle"r.

Assim o partido é apresentado no processo aberto nesta terça-feira no Tribunal Constitucional (TC) do Senado, dez anos depois do fracasso de um primeiro processo, então apoiado pela Câmarados Deputados e pelo governo federal.

Os "Länder" (estados federados) apoiaram a reivindicação apontando pontos do programa do NPD, como os que defendem a tese de "Alemanha para os alemães" e o que "lamenta" a estrangeirização do país atribuída à imigração.

A isso se unem declarações xenófobas e antissemitas em comícios ou atos semiclandestinos de seus membros, muitos dos quais têm um amplo histórico criminal por negação do Holocausto --crime passível de prisão na Alemanha--, agitação e atos violentos.

O processo considera que tanto sua ideologia como sua militância atentam contra os princípios de um Estado democrático, ao perseguir metas anticonstitucionais e defender, em suas revistas ou comícios, questões como a deportação forçada de estrangeiros.

O NPD representa a versão mais agressiva da xenofobia e sua militância se estende por todas as camadas sociais e em todo o país, embora publicamente estejam mais presentes na metade leste da Alemanha, onde o desemprego é quase o dobro do resto do país.

Os "Länder" optaram por lançar esta segunda iniciativa após o escândalo em torno da Clandestinidade Nacionalsocialista (NSU), uma célula integrada por três neonazistas que durante uma década assassinou impunemente nove imigrantes em vários pontos do país.

A existência dessa facção foi descoberta em 2011 por causa do suicídio de dois de seus membros --encurralados pela polícia após um ataque, ao que se seguiu um processo por terrorismo contra a sobrevivente do grupo, Beate Zschäpe.

Pela primeira vez na Alemanha moderna se aplicou o termo terrorismo à extrema-direita em um caso manchado pelas múltiplas negligências na investigação policial, que também revelou os vínculos do NPD com esse e outros grupos.

O NPD sofre de uma queda de militância há anos, enquanto se proliferam outras 200 "camaradagens" ou organizações locais, com 25 mil militantes catalogados como potencialmente violentos.

O propósito dos estados federados é afogar financeiramente o NPD, que apesar de nunca ter obtido cadeiras no Bundestag, recebe financiamento público pelos postos que tem em duas câmaras regionais e mais algumas municipais.

Há algumas semanas esses fundos foram bloqueados pelo não pagamento de multas, mas só uma ilegalização será o sufocamento definitivo ao financiamento público de um partido cuja mera existência envergonha a Alemanha.

Os "Länder" fundamentam a ação nos paralelismos do NPD com o partido nazista, cujo sucessor, o SRP, foi ilegalizado na década de 1950.

Este é o único precedente de ilegalização de um partido na República Federal da Alemanha, além da do Partido Comunista da Alemanha (KPD) no pós-guerra.

O risco de fracasso inibiu tanto o Bundestag como o governo de Angela Merkel de respaldar a reivindicação do Bundesrat.

A chanceler adotou esta decisão na legislatura passada, à frente de uma coalizão de centro-direita, e não se espera uma mudança na próxima, previsivelmente com os social-democratas.

Apesar disso, seu Executivo expressou seu desejo de que prospere o requerimento no Tribunal, único órgão na Alemanha que pode proibir a existência de um partido em escala nacional.


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