Folha de S. Paulo


Análise: Ucrânia vem se decepcionando com políticos desde colapso da URSS

Não é com frequência que a União Europeia serve de causa a um tumulto. Mas para centenas de milhares de pessoas, na maioria jovens, nas ruas de Kiev, a UE parecia uma causa digna de luta.

Para os manifestantes, a Ucrânia perdeu seu encontro com o destino. Após cinco anos negociando uma associação com a UE, o presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, congelou o acordo e alegou estar sofrendo pressão irresistível da parte da Rússia.

Até a semana passada, parecia que a Ucrânia estava tendo de escolher entre o Ocidente e o abraço apertado do urso russo. No domingo, porém, o foco passou à derrubada do presidente e à convocação de eleições antecipadas.

A Ucrânia é escandalosamente mal servida por suas elites políticas desde o colapso da União Soviética. O desgoverno e a corrupção descontrolada do presidente pós-soviético Leonid Kuchma resultaram na Revolução Laranja, uma década atrás.

O homem que saiu vitorioso da eleição que a revolução causou, Viktor Yushchenko, se provou uma grande decepção. A principal rival de Yanukovich, Yulia Timoshenko, que está presa, tampouco foi um anjo em seu período como primeira-ministra.

Yanukovich levou o país à beira do colapso financeiro enquanto seus comparsas adquirem riquezas obscenas. Seu principal objetivo é manter o poder na próxima eleição, em 2015. Parece calcular que o presidente russo, Vladimir Putin, é a melhor aposta para atingir esse objetivo.

Não está claro se a energia dos protestos poderá ser mantida. A mais formidável oponente de Yanukovich está na prisão --ele tem medo de Timoshenko. Putin pode ajudá-lo no curto prazo, mas o preço será alto e arruinará as aspirações dos manifestantes.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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