Folha de S. Paulo


Netanyahu e papa Francisco discutem visita do pontífice a Israel

O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, conversou nesta segunda-feira com o papa Francisco sobre sua visita à Terra Santa em 2014 e aproveitou a oportunidade para criticar mais uma vez o acordo em torno do programa nuclear iraniano.

Durante este primeiro encontro, de cerca de meia hora, entre Netanyahu e o papa, "o projeto de peregrinação do Santo Padre pela Terra Santa" foi mencionado, mas nenhuma data foi anunciada.

O encontro, muito aguardado, terminou sem grandes novidades.

A relação entre o Estado hebreu e as comunidades católicas locais, o relacionamento entre a Santa Sé e Israel, o contexto regional e a procura de "uma solução justa e duradoura" para o conflito entre israelenses e palestinos foram os temas discutidos, segundo um breve comunicado da Santa Sé.

O encontro na biblioteca do papa, conhecido por suas boas relações com o judaísmo, foi acompanhado pelo novo secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin.

A falta de informações sobre a visita do papa à Terra Santa, que será provavelmente em maio, é explicada pela presença em Israel de uma equipe do Vaticano para prepará-la, indicaram fontes ligadas ao tema.

Assim como a viagem a realizada por Bento XVI em 2009, a de Francisco deve incluir etapas em Israel, nos territórios palestinos e na Jordânia (e talvez uma visita a um campo de refugiados sírios).

A questão nuclear iraniana, mesmo provavelmente tratada por Netanyahu, não foi mencionada no comunicado de imprensa do Vaticano, que mantém boas relações com o Irã.

Para a viagem de Francisco, um dos cenários discutidos foi a de uma visita conjunta com o patriarca ortodoxo de Constantinopla, Bartolomeu, para o quinquagésimo aniversário da histórica visita do papa Paulo VI e do patriarca Atenágoras à Terra Santa, em 1964.

'HERANÇA COMUM'

As relações entre Israel e a Santa Sé são relativamente boas, mas também tensas por longas negociações sobre disputas legais e financeiras de propriedades da Igreja. O estatuto da Cidade Sagrada de Jerusalém, o descontentamento das comunidades católicas que denunciam a construção de um muro de separação e a situação da minoria cristã - 2% dos israelenses - também são questões atuais.

Evocando uma "herança comum" entre judeus e cristãos, o premier ofereceu ao papa Francisco um livro de seu pai argumentando que os católicos defenderam os judeus durante a Inquisição espanhola.

No livro "As Origens da Inquisição na Espanha no século XV", Netanyahu escreveu uma dedicatória: "Para Sua Santidade o papa Francisco, um grande pastor da nossa herança comum".

ITÁLIA

Durante a tarde, Netanyahu e o primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, assinaram doze acordos (energia , saúde, cultura, educação, cinema).

E na coletiva de imprensa conjunta, Letta, que chamou seu parceiro de "querido Bibi", registrou as divergências do governo italiano em relação à questão iraniana.

Enquanto Netanyahu pediu novamente que o perigo representado pelo programa nuclear de Teerã seja contido, o presidente do Conselho expressou "cautela, mas também a sua confiança" no que diz respeito ao acordo assinado pelas grandes potências e a República Islâmica na semana passada em Genebra.

O líder israelense retomou seus ataques ao Irã, "que para além dos sorrisos e de seu domínio do inglês, continua a causar massacres na Síria e a patrocinar o terrorismo, assim como o Hizbollah, o Hamas, a Jihad Islâmica, os grupos mais retrógrados do mundo".

Os dois líderes, no entanto, concordaram em condenar o racismo e o anti-semitismo, com Letta anunciando que um "Museu do Holocausto" seria criado em Ferrara (norte da Itália ), onde se passa o famoso o romance de Giorgio Bassani, "O Jardim dos Finzi Contini", que narra a ascensão do racismo sob o fascismo contra os judeus.


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