Folha de S. Paulo


Senadora de esquerda ganha força para 2016 nos EUA

Elizabeth Warren, 64, a senadora mais à esquerda dos Estados Unidos, considerada inimiga de Wall Street e defensora da classe média, tornou-se a maior novidade na disputa aberta que já cerca a sucessão do presidente Barack Obama.

Hillary Clinton, 66, ex-primeira-dama e ex-secretária de Estado, ainda é considerada franca favorita dentro do partido do presidente: 70% dos democratas dizem querer Hillary como candidata, segundo pesquisa da CNN.

Mas ela também era favorita em 2008, quando foi derrotada por um senador ainda em primeiro mandato, que também vinha "de fora de Washington", com um discurso anti-establishment.

Será Warren o novo Obama? A capa da revista "New Republic", com centenas de pessoas portando máscaras de Warren, sob o título "O pesadelo de Hillary", trouxe à baila o que era apenas cochichado em círculos democratas.

A revista de esquerda "The Nation" afirmou que "candidata ou não, Warren tem a mensagem certa para 2016".

Sua candidatura forçaria Hillary a explicar suas posições --é o que dizem até os que acreditam que Warren não conseguiria derrotar a máquina dos Clinton.

Analistas também fazem uma ligação entre a popularidade de Warren e a eleição do esquerdista Bill De Blasio, um ex-sandinista simpático ao movimento Occupy Wall Street, como novo prefeito de Nova York no início do mês.

MAIS À ESQUERDA

O Partido Democrata teria mudado bastante de 2008 para cá. Segundo uma pesquisa do instituto Pew, democratas estão cada vez mais preocupados com o crescimento da desigualdade e mais simpáticos à regulamentação financeira (da qual Warren é a mais famosa porta-voz).

Outra pesquisa, do instituto Gallup, diz que o número de democratas que desaprovam o "tamanho e a influência das grandes corporações" no país subiu de 51% para 79% entre 2001 e 2011.

A imagem negativa dos bancos, segundo a mesma pesquisa, cresceu de 23% para 47%, de 2007 a 2013, entre os democratas.

No Senado, em uma sabatina modorrenta e com perguntas fáceis para Janet Yellen, nomeada por Obama para ser a nova presidente do Fed (banco central americano), Warren destoou.

Disse que o Fed não tinha desempenhado seu papel para evitar a crise de 2008, e perguntou se, sob Yellen, "o primeiro escalão do banco cuidaria de regulamentação financeira do mesmo jeito que cuida da política monetária".

Apesar da fala mansa e pausada, sempre alguns tons abaixo da média inflamada dos políticos, os discursos de Warren no Senado são chamados pela mídia americana de "ferozes".

Ela reclamou no plenário de como o crédito universitário tinha juros mais altos que os empréstimos subsidiados pelo governo a empresas financeiras e de como os mais ricos pagam menos impostos que a classe média.

ÍCONE

Warren já tinha se transformado em ícone da esquerda americana ao atacar duramente os bancos no documentário "Capitalismo, uma história de amor", de Michael Moore, e em sua curta passagem pelo governo Obama, quando ajudou a criar o Escritório de Proteção ao Consumidor Financeiro.

Diante da resistência da oposição e de Wall Street, Obama desistiu de nomeá-la para chefiar o organismo, o que ainda reforçou sua imagem de alternativa.

Seu único tropeço público conhecido foi revelado no ano passado, durante sua campanha ao Senado.

Ela se declarou "nativa americana" em Harvard, onde leciona, e seu adversário republicano disse que essa declaração de identidade buscava obter vantagens em ações afirmativas, algo que ela sempre negou.

"Minha avó sempre disse que tínhamos sangue nativo", disse Warren na TV. Os eleitores de Massachusetts a elegeram com 53,7% dos votos, contra 46,3% do republicano Scott Brown.

Com a popularidade de Obama no seu recorde negativo, depois do lançamento acidentado de seu plano de saúde universal --com o site onde os usuários poderiam adquirir seus planos funcionando de forma precária--, as campanhas para a sua sucessão já estão na rua (com vídeos pró e contra Hillary). Ainda que a eleição seja só em novembro de 2016.

Folhapress/arteFolha

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