Folha de S. Paulo


Principal milícia rebelde rejeita participação em conferência sobre Síria

A principal milícia rebelde síria descartou nesta terça-feira participar da conferência promovida por Estados Unidos, Rússia e a ONU para tentar resolver o conflito no país, iniciado em março de 2011. O Exército Livre Sírio afirma que continuará os combates para tentar derrubar à força o ditador Bashar al-Assad.

O anúncio é mais um sinal do isolamento da Coalizão Nacional Síria, grupo opositor moderado que foi o único a mostrar interesse pelo evento internacional, a ser realizado em 22 de janeiro em Genebra. Além do Exército Livre Sírio, facções islamitas que enfrentam o Exército sírio rejeitaram as negociações.

Em entrevista à rede de televisão Al Jazeera, o líder da milícia moderada, Salim Idriss, afirmou que não há condições para a realização da conferência em janeiro e rejeitou qualquer cessar-fogo durante as negociações com o regime sírio.

"Nós, como uma força militar e revolucionária, não vamos participar da conferência e não vamos parar o combate durante a conferência de Genebra ou depois dela. O que nos preocupa é conseguir as armas necessárias para nossos combatentes."

A nova data para a conferência foi anunciada na segunda (25) pela ONU, que ainda programou uma reunião com o secretário de Estado americano, John Kerry, e o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, para o final de dezembro.

PROBLEMAS

Os dois propuseram a conferência em maio. No entanto, o evento foi adiado em diversas ocasiões por falta de acordo entre os rebeldes e sobre a situação de Assad. Enquanto as potências ocidentais e a oposição desejam sua saída imediata, Rússia e China não colocam a queda do mandatário como condição para a transição.

Na segunda (25), o presidente da Coalizão Nacional Síria, Ahmed Jarba, considerou a data para a conferência razoável, já que há tempo para a preparação do evento. No entanto, condicionou sua entrada à exigência da saída de Assad, o que pode minar os esforços para uma transição política.

O chanceler francês, Laurent Fabius, também descartou a presença de Assad nos planos de transição. "Quero lembrar que o objetivo de Genebra 2 não é ter uma conversa de bar sobre a Síria, mas um consentimento mútuo entre os membros do regime, sem Bashar, e a oposição moderada para formar uma transição".

Ele também considera possível que seja formada uma solução política sem a presença do ditador e dos grupos terroristas que combatem no país, embora estes não participem do evento de transição e tenham se recusado a aceitar quaisquer de suas decisões.

IRÃ

Outro ponto polêmico é a entrada no Irã nas negociações de paz. A presença da República Islâmica, uma exigência do regime de Bashar al-Assad, é recusada pelos rebeldes sírios e por países que os apoiam, como Arábia Saudita, Turquia e Qatar.

Para a oposição moderada, que participará do evento, Teerã só deve participar como observador, não estando presente na reunião de abertura, que contará com a presença de chanceleres. A decisão deverá ser tomada nos próximos dias, em reunião entre Kerry, Lavrov e o enviado especial da ONU, Lakhdar Brahimi.

Segundo fontes diplomáticas, a possibilidade de participação dos iranianos cresceu após o acordo sobre o programa nuclear com os Estados Unidos, no último fim de semana.


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