Folha de S. Paulo


Análise: Kennedy, história contrafactual

John F. Kennedy teria sua reeleição em 1964. Para permanecer no cargo seria fundamental manter uma política externa de contenção do comunismo.

Democratas como ele sempre tinham que soar mais belicosos do que os republicanos e também agir como tal para evitar a acusação de estarem sendo "molengas" com o inimigo da Guerra Fria. Não há dúvida de que teria pelo menos um ano em que deveria posar de "falcão" em vez de "pomba", como se diz no jargão político americano.

Resta saber como ele agiria em um segundo mandato. Não há consenso entre historiadores do período sobre o que poderia ter acontecido.

Kennedy intensificou a intervenção na guerra civil do Vietnã, mas tinha grandes dúvidas sobre a possibilidade de vencer o conflito. Em 1963 ainda estava esperando relatórios confiáveis sobre a situação do país para tomar uma decisão.

Havia um sinal de otimismo: o ditador extremamente impopular do Vietnã do Sul, Ngo Dinh Diem, fora derrubado por um golpe militar. Havia então a esperança de gerir o país e a guerra contra os insurgentes comunistas com mais eficiência.

O presidente americano era particularmente fã das forças especiais militares, como os boinas verdes do Exército. Uma estratégia baseada em princípios de contrainsurgência, com apoio de forças especiais, poderia ter, quem sabe, ganho a guerra para os EUA e seu aliado.

O que se viu historicamente foi o contrário: um general americano, William Westmoreland, obcecado pelo poder de fogo. O Vietnã do Sul foi pulverizado, alienando completamente o campesinato e impedindo que o governo se estabelecesse.

Ironicamente, a estratégia foi revista pelo seu sucessor, o general Creighton Abrams, e conseguiu grandes sucessos em pacificar o campo em 1970. Mas já era tarde para ganhar a guerra, especialmente por conta do cansaço americano --do governo e do público-- em continuar o conflito.

Se Kennedy tivesse um comandante como Abrams em 1964 a história poderia ser outra, embora era difícil ganhar a guerra na impossibilidade de se invadir o Vietnã do Norte (e inevitavelmente trazendo China e URSS para o confronto direto).

Kennedy fez frente aos soviéticos na crise dos mísseis de Cuba de 1962; mas também se empenhou em criar um tratado proibindo testes nucleares na atmosfera e no mar. Em um segundo mandato, sem ter que pensar em reeleição, e com alguns trunfos diplomáticos (talvez uma vitória no Vietnã?), ele poderia ser mais ousado ao negociar com os soviéticos.

Ao contrário da sua retórica na campanha de 1960, ele sabia que os EUA eram incomparavelmente mais poderosos em armamento nuclear do que a União Soviética. Não haveria então dificuldade em assinar tratados de redução de armas nucleares, ou se aproximar da China comunista.

Ironicamente, essas seriam importantes obras posteriores do presidente republicano Richard Nixon, o candidato derrotado em 1960 por Kennedy.


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